segunda-feira, março 03, 2008

(I) Vitorino Nemésio - Uma caricatura de escárnio e mal dizer (I)

O texto que, nos próximos dias, vai ser publicado no Ventilhador, (preenchendo um período de ausência, de duração incerta, no continente, do responsável do blogue ) ainda se pode considerar ter por motivação imediata as recentes comemorações do aniversário da morte de Nemésio.
O seu conteúdo pode parecer injurioso para Nemésio, mas tem de perceber-se que se trata de uma caricatura sarcástica de raízes muito antigas na literatura portuguesa e que Jorge de Sena cultivou.
Como todas as caricaturas, tem por base um exagero em relação à personalidade de Vitorino Nemésio. A sua ligação ao jornalismo e a sua ambição de ser responsável por jornais como director.
Duas características que, longe de o diminuírem apenas o engrandecem.
Tanto mais que, sendo este poema, implacavelmente satírico para Nemésio, datado de 15 de Dezembro de 1956, a vida daria a Nemésio, bastantes anos depois, a oportunidade de demonstrar que não estava disposto a tudo sacrificar, para conseguir estar à frente de qualquer jornal.
Tal aconteceu por duas vezes.
Da primeira, quando, ainda no período marcelista, foi convidado para dirigir "O Século"e não se coibiu de tornar públicos os objectivos que o moviam na aceitação do cargo.
Considerados inaceitáveis para os tempos de então, o convite foi cancelado.
Da segunda, quando, já depois do 25 de Abril de 1974, aceitou dirigir um jornal de direita, "O Dia", e abandonou o lugar passados poucos meses, por discordar dos rumos que o jornal levava.
Tudo resumindo, pode dizer-se que o Romance-real- da vida de Vitorino Director desmentiu o Romance- satírico- do Vitorino Director que Jorge de Sena, enfaticamente, imaginou.



ROMANCE DE VITORINO DOUTOR

Nas ilhas dos Bensaúdes
do ananaz e da América,
foi que nasceu Vitorino,
com seu nariz de judeu
sua cara de sandeu,
suas graças de menino

E Vitorino crescia

em falas mansas e doces,
em jeito de quem dá couces
a quem os gosta de levar.
E tais patranhas dizia,
com tal sabença escondia
o que estivesse a pensar
que todos na sua aldeia,
pensando no continente
(onde os ilhéus são a gente
que melhor sabe empurrar)
para doutor o criavam

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