quinta-feira, janeiro 27, 2005

O Dia da Memória: Entre "A Vida é Bela" e "A Lista de Schindler"


É possível preservar aquilo que define o homem - o sorriso, mais do que o riso - no meio da mais desumana dor e angústia? Sim, é possível. Provou-o Roberto Benigni , em "A Vida é Bela", jogando a fraqueza da inocência infantil contra a força da máquina de morte das muitas "auschwitzes" do nazismo.
É possível manter abertas as portas da esperança, mesmo que muito estreitas, contra a fábrica do desespero consagrada na lei e no sistema social? Sim, é possível. Provou-o Steven Spielberg, com o exemplo de Schindler. A sua lista era uma "Arca de Noé", em que salvar apenas um homem ( e foram salvos muitos mais) era salvar toda a humanidade.
É possível manter reconhecível os traços do rosto humano e daquilo que, (nestes casos), eufemisticamente, chamamos natureza humana, mesmo à porta da câmara de gás e à boca do forno crematório? Sim, provou-o, entre outros, Primo Levi em "Se isto é um Homem".
Mas, para manter tudo isto possível, há uma condição que é absolutamente necessária. Que a memória não se perca. Que o esquecimento não apague a história. E há este risco social e histórico de lavagem da memória dos povos e dos indivíduos?
Por incrível que, à primeira vista, possa parecer, é esta mesmo a primeira tendência de qualquer povo, perante qualquer barbárie de que seja responsável. Não foi diferente com o povo alemão. Apenas porque vem a talho de foice, transcrevemos meia dúzia de linhas de um livro que merece passar a ser livro de cabeceira dos portugueses, que se preocupem em pensar-se como tais.
Refiro-me a "Portugal, Hoje, O Medo de Existir", de José Gil. Diz ele sobre este tema:
"Depois da Segunda Guerra Mundial, os alemães negaram-se a inscrever na sua existência como na sua história, o III Reich e o nazismo, reduzidos, durante décadas, nos manuais de História dos liceus, a um "episódio" referido em dez ou vinte linhas.
Esse "branco" ou lacuna invisível, ou não-inscrição, está ainda a ter efeitos imprevisíveis na sociedade alemã, não sendo sem dúvida alheio à subida do neo-nazismo".
Felizmente, essa tentação hoje parece superada, se considerarmos as cerimónias oficiais que, por estes dias, estão decorrendo na Alemanha e projectos, como o que encima este "post", do memorial do holocausto que, há dois anos, começou a ser erguido.
Neste caso, recordar é condição de viver!

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Para a EDA, Luz é Nome de Estádio?


Segue a prometida irritação versejada para a EDA, e respectiva nota prévia.
Hoje, chamar-lhe-ia um "POSTEMA"... "avant la lettre".

Nota prévia. No passado Domingo, dia 20, pela manhã, vi que não tinha electricidade, em casa. Pensei, logo, num dos tradicionais cortes programados da EDA. Fui confirmar no jornal da Sexta Feira. Lá estava a habitual “ementa”, na nota informativa, com os cortes do fim de semana.
Mas, se eram todos no Concelho da Praia, como é que, na Vila de São Sebastião, não havia luz?
Reparei melhor. Lá estava São Sebastião, no Concelho da Praia, ao lado da Fonte Bastardo e Cabo da Praia.
Resolvi, então, desabafar, neste


POSTAL ABERTO À DONA EDA, S.A. ,

SENHORA (DA LUZ) APAGADA


Senhora EDA -
A da luz.
Dona EDA -
Nossa cruz.
Tia EDA,
Com arrojo,
Nos conduz,
Para um reino,
Algures,
Entre as trevas
E a(lguma) luz!

Na Terceira,
Entre cortes
E avarias,
As nossas vidas
Comandas.
Manhãs de Sábado,
Fins de semana,
São dias -
Velho fado -
Que, só tu,
Para todos,
Programas.


Na passada Sexta feira,
Em nota,
Mais que informativa,
De formativo
E administrativo
Teor e rigor,
Mais alto andaste,
Mais longe chegaste:
A velha Vila,
A de São Sebastião,
A da Salga, a da Mina,
A da Ribeira de Frei João,
A da Matriz, a do Império, a do Drumond,
Para o Concelho da Praia,
Regiamente,
Mandaste.
E a ele, soberanamente,
Entregaste.

Com moderação
E cautela,
Reconheça-se que o fizeste.
Apenas,
Entre as oito e as treze.
E, por tabela,
Como é tua histórica vocação,
Com corte programado.
Sem luz.
Como é tua secreta ambição
Para todas as freguesias,
Lugares e lugarejos
Desta, por ti, iluminada Região.

Todos sabemos.
Dia vinte
Do mês de Junho,
Já era histórica data,
Para a Praia.
É a data
Da Vitória de ser cidade.
No bolo do aniversário
Passou a ter,
A Praia,
Não, mais voltagem,
Não, mais um ampere,
Mas, mais uma vela,
Pela EDA
Ofertada.
Ofertada,
Mas apagada.

Todos confirmámos.
Quanto à luz,
Com a EDA,
Quer da lâmpada
Quer da vela -
É do estatuto dela -
Só fornece
E oferece
Apagada.



Vila de São Sebastião, 22 de Junho de 2004

segunda-feira, janeiro 24, 2005

É a EDA aquele monstro...

A EDA é uma das memórias mais incómodas da vida dos terceirenses. Porque parece requintar na sua capacidade de lhes desorganizar a vida. Na passada semana de 10 a 16 do corrente, voltou a fazer-me vítima dessa capacidade. A mim, e a muitos outros. Começou por me cortar a luz na manhã de Domingo e numa parte da tarde. Além disso, esqueceu-se de incluir São Sebastião nos anúncios que, na Sexta Feira anterior, publicou no Diário Insular.
Pequena distracção de escassa importância, perante as atribulações a que vem sujeitando, há longos anos, todos os terceirenses. Também concordo. Mas acho particularmente irritantes os erros evitáveis, sobretudo, quando se somam a muitos outros. Alguns deles, possivelmente, inevitáveis.
Para memória dessa pequena história de lapsos evitáveis, aproveito para deixar aqui o registo de dois lapsos anteriores. Um, que resolvi assinalar através de um requerimento que escrevi, como deputado, e que, em termos públicos, apareceu assumido pelos restantes deputados do PS da Terceira. O segundo, através de uma irritação versejada que publiquei nos jornais da altura dos acontecimentos. Nesta página pode conseguir-se o acesso ao requerimento e nesta ler a correspondente resposta do Governo Regional.
Para quem não se quiser dar ao incómodo do Link deixo aqui registadas as lancinantes perguntas gritadas à EDA:
  1. Porquê e até quando?
  2. Mas porquê e até quando?
  3. Meu Deus, mas porquê e até quando?
  4. Senhora EDA, mas porquê e até quando?

A irritação versejada segue na próxima entrada em versão integral, na impossibilidade de remeter para uma hiperligação.



domingo, janeiro 23, 2005

Ferreira Drumond - O Homem dos "Anais" e de muito mais


Francisco Ferreira Drumond, nascido na Vila de São Sebastião, na Terceira, em 21 de Janeiro de 1796, e falecido a 11 de Setembro de 1858, é conhecido, sobretudo, como autor dos "Anais da Ilha Terceira".
A passagem, na última sexta feira, de mais um aniversário do seu nascimento é pretexto para recordar a obra e o homem.
O facto de ocorrer também a passagem de 150 anos sobre a sua morte, dentro de três anos, recomenda que as entidades culturais ou outras, vocacionadas para a comemoração das datas importantes relacionadas com figuras de especial relevo da nossa história açoriana, como é o caso de Ferreira Drumond, comecem a pensar em iniciativas para lembrar aquela data.
Ferreira Drumond é considerado o maior historiador açoriano da sua geração e um dos maiores de sempre.
Duas características do seu método de escrever história se podem relevar nesta breve referência.
Em primeiro lugar, a sua preocupação metodológica de alicerçar a história no documento escrito, no texto do arquivo, no documento público ou privado, que permite elucidar os factos, as suas causas e circunstâncias e fixar a verdade histórica contra a deturpação da lenda e da frágil memória colectiva dos acontecimentos.
Em segundo lugar, a sua preocupação de escrever a história dos acontecimentos que narra, enquadrando-os na perspectiva global da história "das nove ilhas dos Açores"( como reza o próprio título de uma das suas obras) e na própria história do país.
Qualquer destas características conferem actualidade e perenidade ao homem e à obra.
Os possíveis interessados encontram aqui mais informações sobre Ferreira Drumond.

Post Poema Post Mortem

poema morto de ver morrer

Estranha obra
A obra da morte.
Estranha hora
A de ver morrer.

Sempre a esperança por não acontecer!
Sempre a surpresa por ter acontecido!

Estranha obra
A obra da vida.
Estranha condição
A contradição de viver.

Cede a certeza de para sempre ser
Perante a surpresa de se ver morrer!


quarta-feira, janeiro 19, 2005

O Venturoso Merceeiro de Votos e Lugares

Pois é. Falta a menção à terceira pessoa da dita "trindade" partidária.
Confesso que pensei reduzir essa menção ao título desta entrada. Deixando, assim, a quem lê-se o título, o trabalho de fazer o "link" mental para o respectivo personagem.
Vim a concluir depois, que valia a pena dar algum desenvolvimento ao título.
É que o personagem em questão tem, em elevado grau, a esquiva e sinuosa capacidade de fazer esquecer o objectivo central de todos os seus actos - a sua carreira política - por detrás da máscara da disponibilidade permanente para todos os lugares.
Até consegue disfarçar o seu egocentrismo radical, com atitudes de aparente disponibilidade para assumir lugares de menor relevo, desde que esse facto seja devidamente publicitado. Como acabou por acontecer neste Congresso, com a aceitação, por ELE, do humilde lugar de Vice-Presidente, no meio da multidão de outros cinco.
ELE que, (imagine-se só!) já foi Presidente do Partido! Claro, presta-se a ser humilde. Mas, como neste texto. Com "bold"! Só para ele!
Bem pode sentir e mostrar, perante os olhares fascinados e embevecidos dos açorianos, justificado orgulho desta santíssima humildade!
A mesma humildade orgulhosa ou orgulho humilde que o leva a dizer, depois dos lancinantes apelos do líder para a cruzada autárquica, que, do modo mais altruista e heróico, prefere correr o risco de continuar a ser Ministro da Agricultura do que prontificar-se ao passeio eleitoral, que, inevitavelmente, o sentaria na cadeira de Presidente da Câmara de Angra!
Para não alongar demasiado este "post", vou retirar da prateleira desta mercearia apenas o pernicioso artigo que justifica o título, que, aliás, remete para um venturoso rei da dinastia de Aviz, em cujo reinado Portugal se transformou na grande mercearia da Europa.
Este membro desta "santíssima trindade" partidária, atreveu-se a um negócio sem precedentes na história da democracia nos Açores.
Quem tem conhecimento das grandes aspirações da nossa autonomia e democracia açoriana, sabe a relevância que tem sido atribuída pelos agentes políticos à presença de representantes dos Açores nos órgãos de decisão e de representação do poder político da União Europeia.
Toda a gente sabe, igualmente, a luta que, por todos os partidos regionais, tem sido travada para se conseguir o reconhecimento nacional de listas próprias da Região nas eleições para o Parlamento Europeu, ou outra modalidade equivalente. Tal ainda nunca se conseguiu. Em alternativa e, por vezes com bastante resistência dos partidos nacionais, tem-se conseguido a representação de candidatos regionais, em lugares elegíveis nas listas dos dois maiores partidos nacionais.
É neste contexto, que este trinitário personagem, eleito nas listas do seu partido para o Parlamento Europeu, resolve fazer tábua rasa de tudo isto e sacrificar o seu lugar de deputado no PE, por troca com um lugar de Secretário de Estado no Governo da República!
Negócio absolutamente inqualificável! Mercearia vergonhosa!
A forma mais desavergonhada de sacrificar os intesses da Região e os votos dos açorianos ao exclusivo interesse da sua carreira política pessoal.
Desprezo pelo voto dos açorianos! Desprezo pelos interesses institucionais da Região! Desprezo pela consequência imediata de deixar a Região sem representação, junto do maior grupo parlamentar do PE! Porque a sua substituição não podia ser feita por outro candidato não-eleito da Região!
Desprezo pelas consequências a prazo, pelo descrédito que recai sobre a exigência de ter candidatos elegíveis nas listas dos maiores partidos nacionais, por este eleito da Região ter trocado o lugar para que pediu o voto dos açorianos e do país, pelo prato de lentilhas de um lugar secundário no Governo.
O que vale a este senhor, é a inversão e a subversão dos valores democráticos, de que o seu partido e alguma comunicação social tem sido lamentáveis arautos na sociedade açoriana! Houve mesmo comunicação social regional, que se deu ao descoco de o mencionar como uma das figuras em alta entre os açorianos!
O seu partido, nos Açores, já está sofrendo as consequências destas afrontas ao sentido de dignidade e justiça dos açorianos.
Pecebe-se, porque é que o personagem não está disposto a correr o risco de se sujeitar, tão cedo, ao voto dos açorianos! É mais seguro tentar Portalegre!
Desta "trindade", livrai-nos senhor! E ajudai os açorianos a continuarem a libertação que iniciaram em 96!
Nota final. A falta do nome do personagem neste texto não é distracção! É intenção!

segunda-feira, janeiro 17, 2005

O "Pigmalião", da "santíssima trindade" do PSD-Açores?

Não me parece que a relação entre a "criatura," que é o PSD-Açores, e o seu principal "criador", que é Mota Amaral, se possa definir em termos do célebre mito grego de Pigmalião e Galateia. Poderá haver alguns traços coincidentes nestes dois tipos de relações mitológicas (a de Mota Amaral com o PSD-Açores é também do domínio da mitologia), mas não me parece que o modelo-Pigmalião se lhe possa aplicar como chave da sua interpretação e explicação.
Para se perceberem melhor as coincidências e as diferenças entre os dois contextos mitológicos convém lembrar a descrição do mito de Pigmalião.
Eis a sua versão, nos termos em que vem descrito na "Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura" da Verbo Editora:
Pigmalião é um "Rei lendário de Chipre que, desgostoso com a infidelidade feminina, resolvera viver em celibato. Contudo, tendo-se apaixonado por uma bela estátua de mulher, que esculpira em marfim, obteve de Vénus que ela se convertesse em ser humano(...). Este mito está na base da célebre peça Pygmalion, de Bernard Shaw, e, consequentemente, da comédia musical My Fair Lady."
Parece evidente haver neste mito de Pigmalião um contexto de paixão e valorização da obra criada, por parte do seu criador, que me parece totalmente ausente da relação de Mota Amaral com o PSD-Açores. Esta parece-me muito mais perto de uma relação de fixação no papel de paternidade mal resolvida, que transforma o PSD-Açores em mero instrumento da carreira política pessoal de Mota Amaral e bloqueia a evolução normal e a autonomia do próprio partido.
Compare-se esta relação com os seguintes casos paralelos da vida política portuguesa e será fácil perceber os riscos e os danos emergentes que dela resultam para o PSD-Açores.
O PS, por exemplo, tem de aceitar como normais, os eventuais efeitos negativos que, para ele, resultem de tomadas de posição públicas de Mário Soares, enquanto cidadão com percurso pessoal próprio. Imaginem se, depois, tivesse ainda de o acolher como membro activo de congressos e na disputa de lugares de cabeça de lista em eleições legislativas? Já pensaram na hipoteca que isto representaria para o partido e, principalmente, para a sua liderança?
O mesmo se pode dizer de, por exemplo, Cavaco Silva, em relação ao PSD. Que danos incomportáveis não teria para o PSD nacional, se, além de ter de pagar os custos da sua condição de pré-candidato presidencial, como agora aconteceu com a questão do cartaz dos primeiros ministros do PSD, ainda lhe tivesse de reservar lugar, à frente do líder, na lista de Lisboa para a Assembleia da República?
Veja-se só o custo político que terá para Victor Cruz, caso, além da derrota previsível nas próximas eleições de Fevereiro, nem sequer consiga ser eleito, porque teve de reservar o lugar de cabeça de lista para o pai-fundador Mota Amaral. Pai-fundador que, cada título que junta ao seu palmarés pessoal, o de Presidente da Assembleia da República é o último, não o usa para fazer evoluir essa sua relação com o PSD-Açores, com ganhos de maior autonomia para os dois, mas para a fazer regredir com mais um laço de dependência mútua.
Pobre PSD-Açores e pobre Victor Cruz, reduzidos à condição de simples montra para a exibição dos títulos de glória de Mota Amaral!

sábado, janeiro 15, 2005

O Congresso da "santíssima trindade"

Quem diria, que o partido, que faz da autonomia dos Açores o seu título de glória, acabaria refém dos problemas de afirmação da sua própria autonomia em relação ao destino e carreira política de três pessoas.
Três pessoas que têm condicionado o futuro do PSD-Açores à gestão dos seus destinos pessoais.
Ninguém tem dúvida que o Congresso que ontem se iniciou só servirá para legitimar os destinos pessoais e as carreiras políticas futuras de Victor Cruz, Mota Amaral e Costa Neves.
Todos eles ligados ao PSD-Açores e à sua autonomia própria como partido, de uma forma pouco saudável para os destinos do mesmo. O que quer dizer, ligados de tal forma que criam no partido e nos seus militantes, a sedutora e fagueira ilusão de que, resolvidos os destinos destas três pessoas, o partido tem os seus próprios problemas também resolvidos.
O que é paradoxal, é que os maiores problemas do PSD-Açores são determinados, grandemente, pelo modo como estes três gloriosos personagens têm articulado os seus destinos pessoais com o do partido. E que se resume à incapacidade de fazerem as indispensáveis rupturas com o PSD-Açores que, a dupla evolução natural, (paralela, mas não sobreposta) de cada um deles e do partido, exigiriam.
Não é possível, nas dimensões da entrada para um blogue, desenvolver, por igual, as características próprias de cada um destes casos.
Vou tentar reduzi-las a alguns tópicos.
Victor Cruz é um líder refém do partido e das estratégias políticas do PSD nacional, sobretudo as estratégias de alianças eleitorais.
A pior coisa que pode acontecer para uma liderança partidária é transmitir ao partido a imagem de que, nem mesmo que o queira, o líder pode deixar de o ser.
Victor Cruz não só deu essa imagem, mas fez dela, a única singularidade nacional e regional da sua liderança. Será, para sempre, o único líder partidário vivo, condenado a ser líder. E não há pior condenação do que esta!
Haverá mesmo alguém que acredite em Victor Cruz, quando jura e trejura que bateu o pé a Santana Lopes, dizendo-lhe que nunca mais faria coligações nos Açores, em futuras eleições regionais, mesmo que o PSD nacional as fizesse? Não creio que haja.
O problema nem sequer é o da veracidade ou não deste facto. O problema é que, dados os antecedentes conhecidos, Victor Cruz não goza, perante os açorianos, de credibilidade suficiente para acreditarem nele, nessa matéria. Nem, acrescente-se, em nenhuma outra, que reclame autonomia, em relação ao "padrinho" do continente. Também esse património do PSD-Açores ele hipotecou nas últimas eleições regionais.
Que pior coisa pode acontecer a um líder político do que a incapacidade para ser credível, mesmo quando fale verdade? É o grau zero da credilidade política. Não se pode descer mais.
Já cheguei à conclusão que tenho de desistir de "encaixar" os outros dois elementos do "Trio", nesta entrada.
Vou acrescentar apenas mais dois tópicos sobre Victor Cruz.
Como é que se percebe que Victor Cruz diga que este Congresso não tem que se ocupar do projecto próprio do PSD-Açores para a sociedade açoriana? Porque isto já foi feito no último Congresso. E se mantém válido. Mas, então, Victor Cruz e o PSD-Açores utilizaram os três meses de hibernação, desde as eleições regionais de Outubro, foi a tentar varrer da sua memória que os açorianos rejeitaram, exactamente, esses projectos? Afinal, quem é que têm de mudar? São os açorianos ? Ou é o PSD-Açores?
O que Victor diz, por palavras, é que respeita e ama perdidamente os Açores e os açorianos. Mas a mensagem que lhes envia com atitudes como esta, é que eles estão enganados. Não é ele, Victor Cruz, que tem de amar os açorianos tal com eles foram há três meses ( e ainda hoje são). Os açorianos é que têm de vir a amar o Victor Cruz tal como ele era, há três meses! Está-se mesmo a ver quem é que vai levar a melhor neste (des)encontro de amores!
Felizmente, para o PSD-Açores, parece haver uma nova geração que não pensa como o seu líder sobre as temáticas para este Congresso. Veja-se aqui um exemplo.
Segundo tópico. Como é que pode ser o mesmo líder, que conduziu, até agora, uma política de renovação do partido, entendida da forma mais fundamentalista possível e que apadrinhou nalgumas ilhas, (Terceira, Flores, por exemplo) aquilo mesmo que Victor Cruz diz que ela não é- a decapitação - que propõe, agora, com a mesma convicção e expectativa milagreira, o seu contrário? Cada autarca tem de morrer no seu posto! De preferência, acrescento eu, embalsamado na gloriosa bandeira do partido!
Que o Congresso encontre um rumo para o Victor Cruz! É o meu voto de não-congressista, mas de açoriano, com direito às suas próprias expectativas, neste momento importante para a democracia nos Açores.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Derrota do PSD Com Cabeça Intacta

Até gostaria que o título que encima este texto fosse da minha autoria. Escrito hoje. Para definir a situação presente do PSD-Açores.
Mas não. Não é meu. Nem foi escrito hoje. Foi escrito em 1999. No dia 8 de Novembro, no diário "A União". E referia-se à derrota eleitoral do PSD-Açores para a Assembleia da República.
Mas porque misteriosa associação de ideias é que o título não me sai da cabeça e do ouvido? Precisamente, hoje.
Em primeiro lugar, porque quem anda, como eu, há vários dias, a rasgar velhos papeis, que, na altura, pareciam destinados à eternidade, e para os quais, hoje, só vejo um destino : o caixote do lixo, uma vez por outra, encontra nacos de prosa de surpreendente actualidade. Nalguns casos, como o deste título, mesmo espantosamente proféticos.
Até porque, no desenvolvimento do título, se sentenciava, citando, num rigor de análise auto-crítica surpreendente: "São vários os factores que contribuíram para que o PSD tivesse perdido as eleições, por isso, não existem motivos para pedir a cabeça de ninguém".
Em segundo lugar, porque ouvi o Victor Cruz, logo pelas oito da manhã, no nosso "Bom Dia" televisivo, a falar de muita coisa, e de muitas interessantes coisas, sobre o que é e o que foi, o que sente e o que sentiu, o que desistiu e consentiu, e o quanto resiste e confia e o que devem ser os líderes e como os gostam de ver os açorianos e o que devem ser os partidos e os seus membros e... e...e... Mas, nem uma só palavra, sobre os Açores e os açorianos. Os seus problemas e as soluções do PSD-Açores para esses problemas. Muitas palavras sobre quase tudo. Mas nada, nenhuma ideia, sobre aquilo que, para um partido de alternativa, deveria ser o centro de tudo: a sociedade açoriana e o seu futuro, segundo o PSD-Açores.
Voltei a ouvir falar sobre Victor Cruz e o seu PSD, e o PSD e o seu Victor Cruz, pela uma da tarde, pelas seis e meia da mesma tarde e pelas oito da noite, a seguir à mesma tarde do mesmo dia, e continuei, como açoriano que sou, a não ouvir uma única palavra sobre mim, na qualidade de açoriano, nem sobre qualquer outro açoriano, que não seja do PSD, dos TSD, da JSD ou de qualquer outra das siglas que restam, de ligação ao PSD num mundo açoriano, passado e ultrapassado, de hegemonia PSD.
Afinal, o problema do PSD não são as suas derrotas. É a sua cabeça "intacta". Antes das eleições de 1999. E depois das eleições de 1999. Antes das eleições de 2004. E depois das eleições de 2004. A sua cabeça "intacta". No que foi o PSD. E não, no que são, hoje, os açorianos.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Duas Ideias ao Vento

Foi prometendo duas ideias "ventosas" que acabei o último "post".
É com o título de "duas ideias ao vento", que começo este.
Vou limitar-me a enquadrar essas duas ideias e, depois, enumerá-las e numerá-las, para melhor as destacar.

Enquadramento


No "Choque de Gerações"da passada semana, foram adiantadas duas ideias sobre a alteração ao sistema eleitoral regional, proposta pelo Grupo Parlamentar do PS-Açores, na última legislatura da ALRA.

A fazer fé na primeira dessas ideias, o sistema proposto implicaria o aumento do número de deputados da Assembleia da Região.

Tendo em conta a segunda, o novo sistema proposto seria apenas uma das muitas variantes do método de aproveitamento dos restos dos votos não atribuídos aos diferentes partidos, que ocorrem sempre na aplicação dos cálculos baseados no método de Hondt. Esta ideia já teria sido repetidamente estudada nas muitas comissões que, sobre a matéria, se sucederam na ALRA. Portanto, nem sequer se distinguiria por particular originalidade.

Confesso que, há distância de uma semana, já não me recordo se as duas afirmações foram feitas pelo mesmo participante no "Choque."
Pouco interessa para o fim que tenho em vista. Que é o de não deixar acumular dúvidas ou incorrecções sobre este assunto, que é previsível virem a suceder-se nos próximos tempos. Fiquei também com a convicção que aquelas afirmações resultavam apenas da falta de conhecimento pormenorizado do referido sistema.
Permitam-me que acrescente que, como fiz parte de todas (ou quase todas) as Comissões que, nos últimos 20 anos, trataram deste assunto na ALRA, sou-lhe particularmente sensível.

Numeração e Esclarecimento

Transcrevo do texto que tenho à minha frente, antecedido de uma nota que diz: "Versão entregue aos partidos da CERSE (Comissão Eventual para a Revisão do Sistema Eleitoral) , em 11-12-2003)".
  1. "O sistema pode ser realizado, alternativamente: aumentando o número total de deputados (dos actuais 52 para 57, com um círculo de compensação de 5), mantendo a actual distribuição de mandatos por ilha. Reduzindo o número de deputados hoje atribuídos às ilhas ( por exemplo, retirando 1 a cada, menos ao Corvo; ficando a ALRA com 49 deputados -44+5)".
  2. "O apuramento (para o círculo de compensação) é feito da seguinte forma: Soma-se o número total de deputados eleitos pelos partidos nos nove círculos de ilha; A plica-se o método de Hondt ao resultado agregado da votação na região de cada partido; Dos quocientes assim obtidos, são eliminados, para cada partido, tantos quantos os deputados já eleitos nas ilhas; são atribuidos os mandatos do círculo de compensação aos maiores quocientes, depois de feita aquela eliminação."

domingo, janeiro 09, 2005

Ideias ao Vento

  • Da comunicação social açoriana, de fim e princípio de ano, fixei-me nalgumas coisas que me parecem merecer registo.
  • Os balanços e juízos do ano que acaba, parecem estar a passar de moda, na comunicação social regional, a avaliar pelo tratamento dado ao passamento de 2004. As previsões sobre o ano que começa, há muito que passaram para a abertura dos poucos almanaques que ainda restam. O "Deus super omnia" sobre os anos que vão passando, arrisca-se a não encontrar nem almanaques para o abrigar.
  • Que me tenha apercebido, apenas os dois diários da Terceira mantiveram o estilo tradicional do jornal dedicado aos mais importantes acontecimentos e figuras do ano. Não me refiro ao habitual estendal dos acontecimentos regionais, nacionais e internacionais, alinhados com segura sucessão cronológica. Mas àquela preocupação de deixar para a posteridade o nome das personalidades e dos acontecimentos que, os jornais, sobretudo os jornais, têm o fito de libertarem da lei da morte anual.
  • Talvez, porque a conjuntura não favoreceu este entretenimento jornalístico de fim de ano como sinónimo de fim de festa.
  • A nível internacional, porque o maremoto do sudeste asíático, criou um novo tema para competir dramaticamente com a maior árvore de Natal, a disputa dos Pais-Natal para o Guiness ou as queixas dos comerciantes sobre a queda do poder de compra e das Cassandras natalícias sobre o excesso de consumismo.
  • A nível nacional, porque as peripécias "santaninas" de um governo de lances e personagens de opereta, a oscilar entre o caricato da falta de sentido de Estado do clã santanista (incubadora, ambulância, a Assembleia posta ao nível "interessante pfu"! ou "não-interessante pfu", de um chá das cinco na "Linha") ; ou o exibicionismo "poseur" do Paulo Portas, que usa o sentido de Estado como se pode usar gravata de seda ou fato de fino corte. Para a fotografia e para as câmaras televisivas, e que, se percebe, que "despe" logo de seguida.
  • A nível regional, porque o verdadeiro acontecimento do ano foi o grande embuste da comunicação social sobre o resultado das eleições regionais. Só pode ser para se manter firme nessa postura que há órgãos de comunicação social que continuam a classificar "sem sombra de dúvida" que " O PS surpreendeu toda a gente com uma vitória histórica".
  • Conclusão rigorosa, mas não convincente. Afinal, os senhores jornalistas, mesmo quando pensaram o contrário de toda a gente, continuam a considerar-se os porta- vozes "de toda a gente"! E esta, hein!!!
  • Também, enfim, as minhas ideias ao vento, não "ventaram" por tantas paragens como eu próprio pensei, ao iniciar este "post"! Mea Culpa! O próximo, garanto que será sobre duas ideias mais "ventosas".

sábado, janeiro 08, 2005

Clareando Ideias

Circunstâncias várias impediram-me, esta semana, de prestar a atenção habitual a este blogue e aos comentários que foram sendo feitos ao último "post" do dia quatro.
Vou aproveitar este texto, para tornar mais clara a perspectiva em que situei as minhas considerações, sobre a aparente (ou real) anomalia social, representada pela atitude geral da comunicação social regional (e não só), na cobertura das passadas eleições regionais.
Pode resumir-se assim. Como foi possível à comunicação social, no seu conjunto, cair no erro de palmatória, de considerar com iguais probabilidades de êxito, o partido que acabou por arrancar uma vitória arrasadora e as forças políticas que foram esmagadas por uma derrota escandalosa?
Pelos comentários que me foram chegando, fiquei com a impressão que as pessoas consideraram esta forma de colocar o problema, ou irrealista (sonho romântico) ou redutível à tentação de "tabloidização", que varre todos os média, (criar "suspense", mesmo contra os factos), ou então, à capacidade manipuladora da chamada "máquina laranja"(duas máquinas, por sinal, a nacional e a regional).
Não me parece que qualquer destas explicações seja suficente para explicar e, muito menos, permita considerar supérflua, redundante ou inexistente e meramente formalista ou sem conteúdo efectivo, a questão posta naqueles exactos termos.
Irrealista ou romântico seria reclamar para a comunicação social qualquer pretenso objectivismo total que impediria a diversidade de opiniões. A questão é precisamente ao contrário e a contrária. O que faltou foi a diversidade de posições. Construiu-se, ficcionou-se, "misterioso" e tendencioso unanimismo, contra a realidade, posteriormente, revelada pelas urnas. Mas que já existia na sociedade. O surpreendente está na cegueira da comunicação social para, dessa realidade, ter o menor vislumbre. O problema aqui é o da do unanimismo na cegueira. Não, da eventual diversidade de opiniões explicável à luz de interesses também vários.
Quanto à capacidade manipuladora, como é que se explica que ela tenha sido tão eficaz com os jornalistas açorianos e tão ineficaz com os restantes açorianos? Só admitindo que os nossos jornalistas são os mais "tontinhos" de todos os açorianos. Rejeito, com toda a veemência possível, tamanha monstruosidade. Ou cinismo. Ou desconsideração.
Pelo que respeita à tentação do "tablóidismo", ocorre perguntar. Porque é que a ninguém, a nenhum jornalista, no caso, ocorreu tentar o "suspense" (que é sempre a ruptura com o previsível) contra a opinião dominante ? Teria conseguido uma dupla vitória. Criar o suspense e acertar!

terça-feira, janeiro 04, 2005

O IMPREVÍSIVEL OU O INDESEJADO?

Em anos, como o que agora se inicia, em que as eleições vão ocupar a parte de leão do nosso tempo cívico de cidadãos, não convém deixar acumuladas dúvidas, vindas de eleições anteriores, que, não sendo resolvidas ou, ao menos, conscientemente formuladas, acabem por ofuscar e prejudicar a clareza das nossas próprias opções, nesses futuros actos eleitorais.
Penso mesmo que o facto de, em Portugal e na Região, tradicionalmente, se negligenciarem e descuidarem essas questões e se cultivarem atitudes de despreocupação até para o simples enunciado desses temas, contribui para a criação do clima generalizado de cepticismo em relação ao exercício do direito de voto.
O voto acaba por assumir o aspecto caricato de uma verdadeira lotaria, em relação a cujo resultado, acabam por falhar escandalosamente, precisamente aqueles instrumentos que a sociedade considera os intérpretes orgânicos do pulsar das suas tendências mais autênticas, e em que delega, implicitamente, essa função de lhe devolver uma leitura, tendencialmente aproximada e o mais rigorosa possível, dessas tendências sociais subjacentes ou profundas.
Estes intépretes intérpretes são precisamente as sondagens e a comunicação social.
É caso para perguntar. Se eles mostram que, nem para isso servem, quando há um controle posterior das suas previsões, então para que servirão?
Um dos enigmas que, pessoalmente, me intriga, desde as últimas eleições regionais de 17 de Outubro do ano passado, pode assim resumir-se.
Creio que todos (ou quase) concordarão comigo que, na sociedade açoriana, em 2004, se encontravam em pleno funcionamento os mecanismos de transparência democrática que permitem (devem permitir) aos cidadãos tomar consciência do pensamento dominante da sua população, em relação às opções politicas em confronto.
O poder político instituído na Região, representado pelo PS-Açores e o seu Governo, não dominava (nunca dominou nem domina) os aparelhos ideológicos fazedores de opinião, como a RTP/Açores, a RDP/Açores e os restantes órgãos regionais da comunicação social escrita e falada.
Este habitual factor de distorção da compreensão da realidade social, nos seus aspectos menos superficiais, também estava arredado. Também julgo que a maioria das pessoas partilharão comigo esta opinião.
A longuíssima pré-campanha eleitoral, que se arrastou por cerca de um ano (desde que PS e PSD realizaram os respectivos congressos, nos finais de 2003) e a disputadíssima campanha eleitoral, decorreram em condições de plena utilização de todos os trunfos disponíveis por parte dos participantes. Em particular, dos dois maiores. Em particularíssimo caso, do segundo maior - O PSD e o seu bebé-proveta, que nisso empenhou passado, presente e (suspeito) que o futuro.
Neste contexto de mercado político de concorrência perfeita (ou quase), que os economistas, em vão, procuram para a sua área de análise e previsão, como é que foi possível manter de pé, durante toda a fase final da disputa eleitoral, a simulação de um confronto com resultado incerto entre os dois principais adversários? O PS e a Coligação Açores?
Como é que foi possivel, que o jornalismo exercicido nessas condições, se possa ter feito eco, sem excepção relevante, de que aquelas duas forças políticas se encontravam em pé de igualdade, quanto ao resultado final e que até, com mais probabilidade, apontasse para o favoritismo da Coligação?
Neste "post", que já vai longo, fico-me pela pergunta.
Mas voltarei ao assunto. Não, necessariamente, para uma resposta cabal. Seguramente, pelo menos, para o esboço de um modelo de método para encontrar a possível resposta.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

A "BRINCADEIRA" de 2004




Não consigo libertar-me de 2004. Dentro de mim, não o consegui apagar, quando rasguei a última página do calendário.
O pior é que, por mais voltas que dê às minhas memórias de 2004, sobretudo às minhas memórias televisivas, não consigo fugir a esta imagem.
Nem o maremoto de imagens televisivas da tragédia asiática de 26 de Dezembro, que nos vem chegando em crescendo. Precisamente o contrário do que habitualmente acontece com as catástrofes de dimensão histórica na era da televisão. Que costumam sacudir-nos em decrescendo, até se esvairem numa referência sem imagens na cauda de um telejornal.
Nem mesmo esta circunstância consegue apagar ou diluir da minha retina esta imagem, a crueza desta imagem, a pornografia moral e cultural desta imagem.
O que podem fazer dois seres humanos com uma coleira? Só uma brincadeira. Só podem fazer uma brincadeira.
Uma brincadeira, como aquela que deu origem ao romance de Milan kundera, com este preciso título: A BRINCADEIRA.
O próprio Milan kundera resume o tema do romance:
"Na "Brincadeira", Ludvik vê todos os seus amigos e condiscípulos levantarem a mão para votarem, com enorme facilidade, a sua exclusão da universidade, arruinando assim a sua vida. Tem a certeza de que eles seriam capazes, se necessário, de votarem com a mesma facilidade o seu enforcamento. Daí a sua definição do homem: um ser capaz de, em qualquer situação, enviar o próximo para a morte."
Quantas páginas do calendário terei de rasgar ainda, até me reconciliar totalmente com este "ser capaz de, em qualquer situação, enviar o próximo para a morte", que 2004 me gravou no mais fundo de mim próprio?