Não me parece que a relação entre a "criatura," que é o PSD-Açores, e o seu principal "criador", que é Mota Amaral, se possa definir em termos do célebre mito grego de Pigmalião e Galateia. Poderá haver alguns traços coincidentes nestes dois tipos de relações mitológicas (a de Mota Amaral com o PSD-Açores é também do domínio da mitologia), mas não me parece que o modelo-Pigmalião se lhe possa aplicar como chave da sua interpretação e explicação.
Para se perceberem melhor as coincidências e as diferenças entre os dois contextos mitológicos convém lembrar a descrição do mito de Pigmalião.
Eis a sua versão, nos termos em que vem descrito na "Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura" da Verbo Editora:
Eis a sua versão, nos termos em que vem descrito na "Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura" da Verbo Editora:
Pigmalião é um "Rei lendário de Chipre que, desgostoso com a infidelidade feminina, resolvera viver em celibato. Contudo, tendo-se apaixonado por uma bela estátua de mulher, que esculpira em marfim, obteve de Vénus que ela se convertesse em ser humano(...). Este mito está na base da célebre peça Pygmalion, de Bernard Shaw, e, consequentemente, da comédia musical My Fair Lady."
Parece evidente haver neste mito de Pigmalião um contexto de paixão e valorização da obra criada, por parte do seu criador, que me parece totalmente ausente da relação de Mota Amaral com o PSD-Açores. Esta parece-me muito mais perto de uma relação de fixação no papel de paternidade mal resolvida, que transforma o PSD-Açores em mero instrumento da carreira política pessoal de Mota Amaral e bloqueia a evolução normal e a autonomia do próprio partido.
Compare-se esta relação com os seguintes casos paralelos da vida política portuguesa e será fácil perceber os riscos e os danos emergentes que dela resultam para o PSD-Açores.
O PS, por exemplo, tem de aceitar como normais, os eventuais efeitos negativos que, para ele, resultem de tomadas de posição públicas de Mário Soares, enquanto cidadão com percurso pessoal próprio. Imaginem se, depois, tivesse ainda de o acolher como membro activo de congressos e na disputa de lugares de cabeça de lista em eleições legislativas? Já pensaram na hipoteca que isto representaria para o partido e, principalmente, para a sua liderança?
O mesmo se pode dizer de, por exemplo, Cavaco Silva, em relação ao PSD. Que danos incomportáveis não teria para o PSD nacional, se, além de ter de pagar os custos da sua condição de pré-candidato presidencial, como agora aconteceu com a questão do cartaz dos primeiros ministros do PSD, ainda lhe tivesse de reservar lugar, à frente do líder, na lista de Lisboa para a Assembleia da República?
Veja-se só o custo político que terá para Victor Cruz, caso, além da derrota previsível nas próximas eleições de Fevereiro, nem sequer consiga ser eleito, porque teve de reservar o lugar de cabeça de lista para o pai-fundador Mota Amaral. Pai-fundador que, cada título que junta ao seu palmarés pessoal, o de Presidente da Assembleia da República é o último, não o usa para fazer evoluir essa sua relação com o PSD-Açores, com ganhos de maior autonomia para os dois, mas para a fazer regredir com mais um laço de dependência mútua.
Pobre PSD-Açores e pobre Victor Cruz, reduzidos à condição de simples montra para a exibição dos títulos de glória de Mota Amaral!
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