terça-feira, janeiro 04, 2005

O IMPREVÍSIVEL OU O INDESEJADO?

Em anos, como o que agora se inicia, em que as eleições vão ocupar a parte de leão do nosso tempo cívico de cidadãos, não convém deixar acumuladas dúvidas, vindas de eleições anteriores, que, não sendo resolvidas ou, ao menos, conscientemente formuladas, acabem por ofuscar e prejudicar a clareza das nossas próprias opções, nesses futuros actos eleitorais.
Penso mesmo que o facto de, em Portugal e na Região, tradicionalmente, se negligenciarem e descuidarem essas questões e se cultivarem atitudes de despreocupação até para o simples enunciado desses temas, contribui para a criação do clima generalizado de cepticismo em relação ao exercício do direito de voto.
O voto acaba por assumir o aspecto caricato de uma verdadeira lotaria, em relação a cujo resultado, acabam por falhar escandalosamente, precisamente aqueles instrumentos que a sociedade considera os intérpretes orgânicos do pulsar das suas tendências mais autênticas, e em que delega, implicitamente, essa função de lhe devolver uma leitura, tendencialmente aproximada e o mais rigorosa possível, dessas tendências sociais subjacentes ou profundas.
Estes intépretes intérpretes são precisamente as sondagens e a comunicação social.
É caso para perguntar. Se eles mostram que, nem para isso servem, quando há um controle posterior das suas previsões, então para que servirão?
Um dos enigmas que, pessoalmente, me intriga, desde as últimas eleições regionais de 17 de Outubro do ano passado, pode assim resumir-se.
Creio que todos (ou quase) concordarão comigo que, na sociedade açoriana, em 2004, se encontravam em pleno funcionamento os mecanismos de transparência democrática que permitem (devem permitir) aos cidadãos tomar consciência do pensamento dominante da sua população, em relação às opções politicas em confronto.
O poder político instituído na Região, representado pelo PS-Açores e o seu Governo, não dominava (nunca dominou nem domina) os aparelhos ideológicos fazedores de opinião, como a RTP/Açores, a RDP/Açores e os restantes órgãos regionais da comunicação social escrita e falada.
Este habitual factor de distorção da compreensão da realidade social, nos seus aspectos menos superficiais, também estava arredado. Também julgo que a maioria das pessoas partilharão comigo esta opinião.
A longuíssima pré-campanha eleitoral, que se arrastou por cerca de um ano (desde que PS e PSD realizaram os respectivos congressos, nos finais de 2003) e a disputadíssima campanha eleitoral, decorreram em condições de plena utilização de todos os trunfos disponíveis por parte dos participantes. Em particular, dos dois maiores. Em particularíssimo caso, do segundo maior - O PSD e o seu bebé-proveta, que nisso empenhou passado, presente e (suspeito) que o futuro.
Neste contexto de mercado político de concorrência perfeita (ou quase), que os economistas, em vão, procuram para a sua área de análise e previsão, como é que foi possível manter de pé, durante toda a fase final da disputa eleitoral, a simulação de um confronto com resultado incerto entre os dois principais adversários? O PS e a Coligação Açores?
Como é que foi possivel, que o jornalismo exercicido nessas condições, se possa ter feito eco, sem excepção relevante, de que aquelas duas forças políticas se encontravam em pé de igualdade, quanto ao resultado final e que até, com mais probabilidade, apontasse para o favoritismo da Coligação?
Neste "post", que já vai longo, fico-me pela pergunta.
Mas voltarei ao assunto. Não, necessariamente, para uma resposta cabal. Seguramente, pelo menos, para o esboço de um modelo de método para encontrar a possível resposta.

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