Quem diria, que o partido, que faz da autonomia dos Açores o seu título de glória, acabaria refém dos problemas de afirmação da sua própria autonomia em relação ao destino e carreira política de três pessoas.
Três pessoas que têm condicionado o futuro do PSD-Açores à gestão dos seus destinos pessoais.
Ninguém tem dúvida que o Congresso que ontem se iniciou só servirá para legitimar os destinos pessoais e as carreiras políticas futuras de Victor Cruz, Mota Amaral e Costa Neves.
Todos eles ligados ao PSD-Açores e à sua autonomia própria como partido, de uma forma pouco saudável para os destinos do mesmo. O que quer dizer, ligados de tal forma que criam no partido e nos seus militantes, a sedutora e fagueira ilusão de que, resolvidos os destinos destas três pessoas, o partido tem os seus próprios problemas também resolvidos.
O que é paradoxal, é que os maiores problemas do PSD-Açores são determinados, grandemente, pelo modo como estes três gloriosos personagens têm articulado os seus destinos pessoais com o do partido. E que se resume à incapacidade de fazerem as indispensáveis rupturas com o PSD-Açores que, a dupla evolução natural, (paralela, mas não sobreposta) de cada um deles e do partido, exigiriam.
Não é possível, nas dimensões da entrada para um blogue, desenvolver, por igual, as características próprias de cada um destes casos.
Vou tentar reduzi-las a alguns tópicos.
Victor Cruz é um líder refém do partido e das estratégias políticas do PSD nacional, sobretudo as estratégias de alianças eleitorais.
A pior coisa que pode acontecer para uma liderança partidária é transmitir ao partido a imagem de que, nem mesmo que o queira, o líder pode deixar de o ser.
Victor Cruz não só deu essa imagem, mas fez dela, a única singularidade nacional e regional da sua liderança. Será, para sempre, o único líder partidário vivo, condenado a ser líder. E não há pior condenação do que esta!
Haverá mesmo alguém que acredite em Victor Cruz, quando jura e trejura que bateu o pé a Santana Lopes, dizendo-lhe que nunca mais faria coligações nos Açores, em futuras eleições regionais, mesmo que o PSD nacional as fizesse? Não creio que haja.
O problema nem sequer é o da veracidade ou não deste facto. O problema é que, dados os antecedentes conhecidos, Victor Cruz não goza, perante os açorianos, de credibilidade suficiente para acreditarem nele, nessa matéria. Nem, acrescente-se, em nenhuma outra, que reclame autonomia, em relação ao "padrinho" do continente. Também esse património do PSD-Açores ele hipotecou nas últimas eleições regionais.
Que pior coisa pode acontecer a um líder político do que a incapacidade para ser credível, mesmo quando fale verdade? É o grau zero da credilidade política. Não se pode descer mais.
Já cheguei à conclusão que tenho de desistir de "encaixar" os outros dois elementos do "Trio", nesta entrada.
Vou acrescentar apenas mais dois tópicos sobre Victor Cruz.
Como é que se percebe que Victor Cruz diga que este Congresso não tem que se ocupar do projecto próprio do PSD-Açores para a sociedade açoriana? Porque isto já foi feito no último Congresso. E se mantém válido. Mas, então, Victor Cruz e o PSD-Açores utilizaram os três meses de hibernação, desde as eleições regionais de Outubro, foi a tentar varrer da sua memória que os açorianos rejeitaram, exactamente, esses projectos? Afinal, quem é que têm de mudar? São os açorianos ? Ou é o PSD-Açores?
O que Victor diz, por palavras, é que respeita e ama perdidamente os Açores e os açorianos. Mas a mensagem que lhes envia com atitudes como esta, é que eles estão enganados. Não é ele, Victor Cruz, que tem de amar os açorianos tal com eles foram há três meses ( e ainda hoje são). Os açorianos é que têm de vir a amar o Victor Cruz tal como ele era, há três meses! Está-se mesmo a ver quem é que vai levar a melhor neste (des)encontro de amores!
Felizmente, para o PSD-Açores, parece haver uma nova geração que não pensa como o seu líder sobre as temáticas para este Congresso. Veja-se aqui um exemplo.
Segundo tópico. Como é que pode ser o mesmo líder, que conduziu, até agora, uma política de renovação do partido, entendida da forma mais fundamentalista possível e que apadrinhou nalgumas ilhas, (Terceira, Flores, por exemplo) aquilo mesmo que Victor Cruz diz que ela não é- a decapitação - que propõe, agora, com a mesma convicção e expectativa milagreira, o seu contrário? Cada autarca tem de morrer no seu posto! De preferência, acrescento eu, embalsamado na gloriosa bandeira do partido!
Que o Congresso encontre um rumo para o Victor Cruz! É o meu voto de não-congressista, mas de açoriano, com direito às suas próprias expectativas, neste momento importante para a democracia nos Açores.
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