terça-feira, maio 31, 2005

Entre o Tabaco e a Hipocrisia



Parece reinar grande perturbação e alguma confusão no mundo tabágico (açoriano) e no mundo antitabágico (nacional).

Naquele, encerra para balanço ( do grau de nicotémia?) o "Sala de Fumo". Esperemos balanço positivo e regresso breve. Com o mesmo gerente e...o mesmo leite azedo.

Já que parecemos caminhar aceleradamente para um mundo "saxonicamente" sem fumadores, ao menos que consigamos preservar algumas resistentes manchas "latinas" de Salas de Fumo.

Mas os números revelam-se assustadores, para quem, como eu, só é não-fumador por taxativa prescrição médica ( era o cigarro... o cachimbo... a cigarrilha....o charuto... de mais de quarenta anos ou...a vida) e que nasceu e cresceu no mundo açoriano, tabagicamente poluído, dos anos 40, com a iniciação das primeiras fumaças com as primeiras letras da primária. Senão antes.

Reparem só nestes números que nos chegam da França da hecatombe referendária.

E não se esqueçam de consultar o mapa do avanço arrasador dos novos bárbaros do anti-tabagismo.

Quanto ao mundo antitabágico (nacional) as confusões também não parecem ser menores.

Ao princípio da tarde de hoje, assistia a uma entrevista televisiva ao Ministro da Saúde, em que, nem a entrevistadora nem o Ministro, conseguiam acertar na designação correcta do Dia Mundial Sem Tabaco promovido pela OMS.

Ela falava no dia Europeu sem tabaco e ele no dia dos não fumadores.

E em que, mais uma vez, se constatava que Portugal atira fumo para os olhos da comunidade internacional, assinando uma Convenção, que leva anos a traduzir e décadas para começar a aplicar.

Mas o que me é particularmente incomodativo, vindo do mundo do antitabagismo militante, são exemplos, como este da típica hipocrisia do mundo anglo- saxónico.

Leiam as duas primeiras respostas.

Claro que, na Irlanda, como nos Estados Unidos também, aonde, muito provavelmente, este irlandês de importação foi copiar a brilhante explicação, não há qualquer proibição de fumar nos locais públicos.

Há apenas medidas de protecção à saúde dos trabalhadores desses locais!

Deixem-me comentar esta habilidade dialéctica, com uma descontraída gargalhada do tamanho do Oceano Atlântico que nos afasta da Irlanda!

segunda-feira, maio 30, 2005

Parabéns ao "NÃO" da França




Claro que estes "parabéns" são a ironia possível neste momento.

Mal ou bem comparando, são os parabéns de um "benfiquista" ao Vitória de Setubal pela conquista da Taça.

O "não da França" foi, ao mesmo tempo, um resultado fácil e um feito único.

O resultado fácil é o que sempre se consegue quando se põe o medo, e, pior ainda, os medos, contra a utopia. Os "medos" ganham sempre.

No caso, a utopia é a Europa. A última utopia positiva e concreta que, neste momento, resta aos europeus.

Os medos são múltiplos e variados. Alguns muito concretos e recorrentes (desemprego, emigrantes, deslocalização de empresas, etc. etc.) outros muito vagos e difusos (a Turquia, a insegurança nas ruas e nos espíritos, e...o véu islâmico...).

O feito único é ter amalgamado à volta do "Não", o pior que neste momento alimenta o consciente e o inconsciente de muitos estratos sociais da França.
O primeiro deles é o anacrónico saudosismo gaulista. "Une certaine idée de la France", que, hoje, já não passa disto mesmo. "Une idée reçue".
O outro, a nova versão do tradicional poujadismo francês que é o lepenismo.

Para os desgarrados da esquerda "caviar,"que andam a tentar pescar nestas águas turvas, uma "boa" notícia desta manhã, pós- referendária:

"Londres a déjà fait connaître son programme pour sa présidence qui débutera le 1er juillet : moins de régulation, moins de subventions publiques, davantage de libéralisation, davantage d'intégration transatlantique. Tout cela, le traité de Nice le permet."

Muuuuuuitos Parabénssssss!!!

Espero que os "vitorianos" vitoriosos me desculpem a comparação.

É que a sua vitória foi real e merecida!

A do "não" francês tavez tenha sido merecida, mas é, seguramente, uma falsa vitória.

É pura negatividade. Sem nenhum conteúdo positivo.

sábado, maio 28, 2005

Carlos Drummond de Andrade explica o Efeito-Sócrates sobre os impostos



DUAS SOMBRAS, DUAS TAXAS

Por que Meneses tinha duas sombras em vez de uma como toda a gente?

Ele não sabia nem se importava com isto.

Há casos de pessoas que perderam a sombra e lutaram por trazê-la de volta, mas o fenómeno de duas sombras iguais era totalmente inédito.

A cidade interessou-se a princípio: acabou se acostumando e mesmo tirando partido.

Meneses era a única atracção turística de um lugar pobre de paisagem e de prazeres.

- Já que me tornei pólo turístico - disse ele - devo tirar proveito desta condição.
A Prefeitura tem de me pagar uma quantia mensal.

O Prefeito coçou a cabeça. Pagar a um indivíduo por ter sombra dupla? Não estava certo.

Por outro lado, viajantes começaram a chegar de estados vizinhos e até do exterior.
Dinheiro chovendo.

Meneses trancou-se em casa e, atrás da porta, negociou com a autoridade, participação na renda.
Ou isto,ou se mudava para longe.

Esta foi a origem da Taxa das Duas Sombras, que vigorou até à morte de Meneses, rico e afamado.

Só que, nos últimos tempos, uma das sombras diminuíra de tamanho, e um vereador da oposição propôs que lhe fosse cassada a sinecura.

Mas uma sombra e meia era nova atracção, e a proposta foi rejeitada.


Carlos Drummond de Andrade, Histórias para o Rei

sexta-feira, maio 27, 2005

Platão continua a explicar o Efeito-Sócrates




"Sócrates - És muito astuto, Menon e quiseste surpreender-me.
Menon - Como, Sócrates?
Sócrates - Percebo porque fizeste esta comparação (com o torpedo marmorata).
Menon - Suplico-te que me digas porquê.
Sócrates - Para que eu, pelo meu lado, te compare também.
Sei que todos os que tem formosura gostam de ser comparados, porque a comparação redunda em seu favor. Pois, as imagens das coisas belas também são belas, no meu entender.
Porém, não te devolverei comparação por comparação.
Quanto a mim, se o torpedo, estando entorpecido, produz nos outros entorpecimento, então, pareço-me com ele. Se não é assim, não me pareço com ele. Porque se levo a dúvida ao espírito dos outros, não é porque eu saiba mais do que eles. Pelo contrário. Eu duvido mais que ninguém. E é assim que faço os outros duvidarem, também.
Mesmo agora, em relação àquele assunto (em discussão), continuo a não saber o que é. E tu próprio, talvez, o soubesses, antes de falares comigo. Porém, neste momento parece que já não o sabes.
Apesar de tudo, quero examinar e procurar contigo o que possa ser (este assunto).
Menon - E que meio vais adoptar, Sócrates, para indagar o que, de nenhuma maneira, conheces? Que princípio te vai guiar na indagação de coisas que ignoras completamente? E mesmo que chegasses a encontrá-lo, como o reconhecerias, não o havendo nunca conhecido antes?
Sócrates - Compreendo perfeitamente o que queres dizer. E repara também quão fértil em questões é o tema que acabas de abordar. Nesta perspectiva, não é possível ao homem indagar nem o que sabe nem o que não sabe. Não indagará o que sabe, porque já o sabe. Por isto, não necessita de qualquer indagação. Nem indagará o que não sabe, porque nem sabe o que há-de indagar".
Platão - Menon

Platão explica o efeito-Sócrates na Assembleia da República


Torpedo marmorata


"Menon- Sócrates, ouvi dizer, antes de conversar contigo, que não fazes senão criar dificuldades a ti e aos outros, na ânsia de semear dúvidas em ti e nos outros.
E vejo agora que fascinas o meu espírito com teus feitiços, teus malefícios e os teus encantamentos. De maneira que estou cheio de dúvidas.
E, se me é permitida a comparação, parece-me que imitas perfeitamente, pela figura e no todo, esse corpulento torpedo marinho, que causa entorpecimento em todos os que dele se aproximam e lhe tocam.
Sinto que produziste em mim o mesmo efeito; porque verdadeiramente sinto adormecidos e entorpecidos o meu espírito e o meu corpo, e não sei que responder-te.

Apesar de ter discorrido mil vezes, longamente, sobre o assunto, diante de muitas pessoas e acertadamente, segundo julgo. Porém, neste momento, não posso nem sequer dizer o assunto que é.
Fazes bem, na minha opinião, não embarcar nem viajar para outros países, porque, se o que fazes aqui, o fizesses em qualquer outra cidade, depressa te exterminariam".
Nota. Este texto é a tradução literal da edição em língua espanhola dos diálogos de Platão (Ed.Porrua, Mexico, 1966) com uma única adaptação. Onde se lê a palavra "assunto", no texto original está a palavra "virtude".

quarta-feira, maio 25, 2005

É ler e procurar...Ou procurar e ler, minhas senhoras


É procurar e ler, ou ler e procurar, porque
segundo


Por favor, ajudem o homem a libertar-se deste "ter que ser" secular que sobre ele pesa.

Entretanto, quem desejar conhecer a autora pode começar por aqui.

terça-feira, maio 24, 2005

Misturas Perversas e Explosivas





Ao menos Fraga Iribarne, quando mistura milhões com notícias é para elas serem "boas notícias".
Quando Durão Barroso se mistura com milhões, o resultado são notícias como esta:

"Spiros Latsis o armador mais rico do mundo é um herdeiro controverso. O seu pai, Giannis, era visto como um gentil marinheiro grego lançado no comércio de navios nos anos 30.
Mais tarde, voltou-se para o petróleo e construiu um grupo que possui estaleiros navais, refinarias e bancos. Desde a sua morte, em 2003, é Spiros quem gere o império Latsis. Isso não o impede de receber personalidades no seu iate.
Foi aí que José Manuel Barroso passou férias em Agosto de 2004, já depois de ter sido nomeado para chefiar a Comissão Europeia. Férias que permitiram a Latsis receber um subsídio no final desse ano. Uma verdadeira amizade europeia".
Ta Nea, Atenas
Deve ser sina. Em Portugal, as misturas de Durão Barroso em assuntos financeiros davam"tanga". Na Europa, dão bronca.
A frase assassina do jornal de Atenas, em bold no texto, dá-nos bem a medida do prestígio grangeado por Durão Barroso nas suas altas funções. Para si, para Portugal e para a União Europeia.
Uma frase daquelas seria possível e, sobretudo verosímil, com Jacques Delors, ou até com Romano Prodi?
Tenho as minhas dúvidas.

segunda-feira, maio 23, 2005

Nomeado pelo Papa e...(re)nomeado pelos jornalistas




A nova especialização do nosso jornalismo regional é a atribuição de "estatutos " de açorianidade:

Mota Amaral é super-açoriano;
Jaime Gama é infra-açoriano;
O Arcebispo William Levada açorianiza-se facilmente:
Acrescenta-se-lhe ao nome oficial, entre nobilitante parentese, o apelido do bisavô.

Eis uma boa sugestão para a revisão estatutária em curso, que, assim, pode aproveitar para recuperar o antigo conceito afim de "estatuto de residente", que a Região deixou cair na última revisão estatutária mas que a Madeira, zelosamente, conserva.

sábado, maio 21, 2005

Anibalecticamente Descontente


Anibal Pires descontente com quê?

Com a política. E com o PS.

Dão a entender os jornais.

Com a política, parece-me mau prenúncio para um líder em estágio.

Com o PS, é mais ou menos genético, nos camaradas do PC.

Mais preocupante é que me parece descontente, além de com a política e os seus altos e baixos, também com a lógica.
Com a tradicional lógica formal, seguramente. Mas também com a própria lógica dialéctica. A verdadeira alma do materialismo dialéctico, que, por definição, todo o comunista não pode deixar de acatar fervorosamente.

Como se sabe, Marx pretendeu colocar sobre os pés a dialéctica, que, segundo ele, Hegel teria invertido, pondo-a a andar sobre a cabeça.

Aníbal Pires, a avaliar pelo que consta dos jornais, é muito mais radical. Põe-na de joelhos perante o factos. E de costas para eles.

Resumamos. Do que dizem os jornais.

Aníbal encerrou negociações com o PS...que nunca chegaram a ser abertas.

Mais.

Aníbal afirma, categórico, que encerrou "definitivamente"... negociações, que nunca chegaram a estar "provisoriamente" abertas.

Mas, então, encerra-se o que nunca se chegou a abrir? Isto é muito mais que a negação da negação que, segundo a lógica dialéctica, toda a afirmação contém.

Por não ter o PS aberto negociações com o PC para as autárquicas, Aníbal conclui, com muito mais dialéctica do que lógica, que o PS "não tem um projecto alternativo para a Câmara Municipal de Ponta Delgada. ( "A mais importante do arquipélago", acrescenta-se como refrão, que espero da pena do jornalista e não da sólida formação autárquica de Aníbal, que, ao contrário de alguns jornalistas, decerto, saberá, que não há quaisquer critérios válidos para dizer, por exemplo, que a Câmara de Lisboa é mais importante que a do Porto ou de Coimbra...).

Até pode acontecer que Aníbal tenha razão sobre "os projectos alternativos" do PS para a Câmara de Ponta Delgada, mas, no seu raciocínio político-dialético, há qualquer coisa a mais ou a menos. Do lado das premissas ou do lado da conclusão. Ou do lado do que Aníbal faz com as conclusões das suas premissas.

(NB. Não confundir com primícias da sua liderança. Estas, acho que ainda ninguém percebeu se são mais (com)prometedoras do que prometedoras. Ou, dialecticamente ( ou antes "anibalecticamente"), precisamente o contrário do contrário disto mesmo).

E mais e mais exemplos furtivos de uma nova lógica em que a afirmação não inclui...mas também não exclui a sua própria negação.

Aníbal não exclui, mas também não ...inclui

a) "a hipótese de avançar (sic) como candidato à Câmara de Ponta Delgada";

b) "outros nomes que reúnem condições para serem bons candidatos";

c) a evidência que "qualquer eleição que dispute é sempre encarada na perspectiva de um teste à liderança"

d) "Ao nível interno (do PC, claro) esta leitura não se faz".

(Como se vê nesta afirmação há resquícios claros de uma lógica tradicional do PC, que não duvido, Aníbal conseguirá, "anibalecticamente", superar no futuro.)

e) Quanto ao ex-coordenador do Partido, José Decq Mota, Aníbal mantém-se anibalecticamente coerente. Não exclui nem inclui o que quer que seja, apesar de saber que " os órgãos locais do partido tendencialmente se inclinam (no PC deve ser uma posição "tendencialmente" pouco cómoda) para esta solução.

Mas Aníbal mantém Decq Mota na posição que, por direito próprio de longos anos, ele adquiriu:

a de "melhor candidato para":

Para as autárquicas
Para as regionais
para as nacionais
para as europeias
para os órgãos deliberativos do Partido
para os órgãos executivos do Partido
Para tudo o que tenha a marca do PC nos Açores,
anibalecticamente, não incluindo nem excluindo
a própria liderança do PC nos Açores.

Tal como foi (continua a ser?) Álvaro Cunhal no PC português.

Este é que é o grande problema para Aníbal Pires.

Que ele ainda nem sequer abriu.

E que, seguramente, não vai conseguir resolver

da expedita forma que usou nas goradas negociações com o PS:

Encerrar
(jornalisticamente)
sem ter o custo de
(politicamente)
chegar a abrir.

sexta-feira, maio 20, 2005

Portugal, Petrificado pelo Défice, não liga a Petra



Parece charada. E, talvez, seja mesmo.

Na verdade, é apenas uma forma, mais ou menos arrevezada, de dizer que Portugal não liga "peva" ou "pevide"... às possíveis crises do nosso mundo, porque vive acomodado e embotado, nos últimos três anos ( ou será desde Álcacer-Quibir?), pelas crises sucessivas com que amanhece nos seus dias jornalísticos, políticos, desportivos, financeiros, da justiça, etc. etc. etc. Em crise real, em crise imaginada, em crise antecipada, e outras e mais outras ainda.
Esta última - a antecipada - é a modalidade nova, alimentada pela forte (em estereópitos) imaginação dos nossos jornalistas.
Todos os dias, congeminam uma nova versão que o "perverso" governo de Sócrates estará a preparar para os portugueses!
Talvez por isto mesmo, em vão, procurei, em vários motores de busca, uma referência da comunicação social escrita portuguesa à reunião de 36 personalidades, 29 das quais prémios Nobel, na cidade de Petra na Jordânia, para reflectir sobre os problemas do mundo actual. Sobre o "Mundo em crise", mais exactamente. Reunião realizada estrategicamente, poucos dias antes da reunião do Forum Económico Mundial.
Para a comunicação social escrita portuguesa não houve estratégia que resultasse.
Encontrei referências repetidas e abundantes na imprensa brasileira, espanhola, francesa, inglesa.
Na imprensa portuguesa, nem rasto. Pelo menos, rasto que chegasse ao Sapo, por exemplo.
Aqui ficam, além da imagem de Petra e uma imagem do encontro, o link para a notícia do acontecimento, uma frase extraída do discurso do promotor da reunião, o rei Abdullah II, da Jordânia e uma reflexão de Gunter Grass, de um artigo que já anteriormente citei, sobre uma das possíveis raizes da crise futura do nosso mundo. As centenas de milhares, senão milhões, de pessoas, que, no nosso tempo, passam a vida em campos de refugiados.
A frase do rei Abdullah:
Le roi a souligné qu'au Proche-Orient "plus de la moitié de la population a 18 ans ou moins. Ils n'ont pas de mémoire d'un temps sans conflit régional. Ils voient un large fossé entre riches et pauvres"

A reflexão de Grass, referindo-se aos tempos imediatamente seguintes à derrota da Alemanha na 2ª guerra:
"A peine la liberté devenait-elle sensible qu'il fallut déjà exercer la contrainte : dans les deux Etats allemands, cela permit d'éviter la construction de camps qui auraient accueilli pour une longue période une foule de réfugiés et d'expulsés. On a ainsi endigué le risque de voir se développer aprés coup des sentiments de haine et ce besoin de vengeance qui s'installe quand on vit longtemps dans des camps et qui a pour conséquence - notre actualité le montre -la terreur et la contre-terreur."
Poder-se-á perguntar. O que é que Portugal tem a ver com tudo isto? Nesse mesmo dia 18, o único terror, vindo dos "campos,"que, em Portugal, se receava, chamava-se... CSKA!

quarta-feira, maio 18, 2005

Vanguardas, Sempre prontas a oferecer o que não conseguem conquistar




Não consigo resister à tentação de juntar estas três notícias.

Bem sei que é uma tentação de facilidade. Mas, por que não ceder-lhe um vez que outra?

A de dois marienses que protestam contra uma tourada.

Não deixando de ser apenas, "dois com um cartaz", tiveram direito a espaço generoso no jornal e a fotografia. Para os milhares que foram à tourada, nem uma coisa nem outra.

Uma associação, com um representante, que protesta contra animais acorrentados nas pastagens açorianas.

Tem um nome que não lembraria ao diabo. Para o jornal "representa" a Europa. E tem sede na Alemanha.

É esta última circunstância que me leva até à terceira notícia. Até Gunter Grass, e à sua visão da liberdade "oferecida aos alemães".

O texto completo, que ele escreve sobre essa "ofertada" benesse, há sessenta anos atrás, está neste link. O essencial do seu pensamento pode resumir-se no seguinte extracto.

"Si nous célébrons donc le 8 mai chaque année, si nos discours bien composés en font une journée de libération, c’est forcément que nous l’avons interprété ainsi après coup – d’autant plus que nous, les Allemands, n’avons rien fait, ou pas grand-chose, pour notre libération.

Porque será que as vanguardas "up to date" chegam demasiado tarde às páginas da história (se é que, algum dia, lá chegarão) mas conseguem entrar, de rompante, pelas páginas dos jornais?
Precipitação dos jornais, ou (imperdoável) distracção da história?

segunda-feira, maio 16, 2005

#1 Onde se devem ler sinais de tempos novos?





Na ausência de Bento XVI, nas primeiras duas beatificações do seu pontificado, ao contrário do que seguramente faria João Paulo II?

Ou na sua presença, na ordenação de novos padres para as paróquias de Roma?

#2 Onde se devem ler sinais de novos tempos?





Na preocupação de Bento XVI, na procura de soluções para problemas deixados em aberto pelo seu antecessor, ou na ultrapassem de regras, que, mesmo o seu antecessor, sempre respeitou?

#3 Onde se poderão ler sinais de tempos novos?





Na preocupação (nova) de Condolezza com o aumento da violência no Iraque, ou na (antiga) preocupação americana, com o aumento da capacidade de outros povos imitarem os americanos na possibilidade de levarem a violência a casa de terceiros?

sábado, maio 14, 2005

Sexta Feira, 13, O dia do Pântano













E mais... E mais... Lama. E mais... E mais... Pântano.

No final de 2001, houve quem se afastasse do poder, avisando-nos do Pântano.

Em meados de 2005, descobrimos que houve quem usasse o poder para nos atolar a todos no Pântano, sem qualquer aviso.

sexta-feira, maio 13, 2005

Costa Neves: O Imune, continua Imune e... SORRI!




"A União" proclama : "Neves não é arguido".

Não vá alguém pensar o contrário do ex-Ministro da Agricultura Neves, para quem, 2605 sobreiros a mais ou a menos, numa decisão que se arrastava entre sucessivos governos, não passou de caso sem importância.

Ao lado, em grande plano fotográfico, Neves sorri!

Clélio Meneszes acrescenta: Mesmo que fosse arguido, ele continuaria a ser " o melhor candidato" para Angra.

Ao lado, Neves continua a sorrir.

No mesmo dia, O "Dário Insular" também avisava: "Polémica(!!!) não afecta candidatura".

Ao lado, ou noutro lado, Neves sorri!

Até porque, afinal, não foram os jornalistas que fizeram confusões com a imunidade parlamentar de Neves.

Não. Nada disto. Foi o próprio Ministério Público.

Como anda bem informado o nosso Ministério Público!

Como os açorianos, que não deram por ele no Ministério da Agricultura (para os agricultores açorianos, Neves foi tão "Sevinate Pinto", como este o foi, para os pescadores e mares dos Açores), o Ministério Público ainda o julgava no Parlamento Europeu!!

Ao lado de tudo isto, Neves pode continuar a sorrir!

E deve continuar a sorrir, sobretudo, pela suprema ironia de ter sido o cargo electivo que ele mais desprezou e diminuiu - o de deputado ao Parlamento Europeu- trocando-o pelo cargo de simples nomeação de Secretário de Estado, que lhe permitiu escapar a esta primeira leva e embrulhada de arguidos.

Ao lado deles todos, Neves, O Imune, SORRI!

Para nós? Ou de todos nós?

quarta-feira, maio 11, 2005

Grandes Expectativas na Terceira






Reina na Terceira autêntico "suspense" hitchcockiano, em relação ao destaque que se prevê seja concedido pela imprensa diária da Ilha à presença do Presidente da Assembleia da República, o ilustre açoriano Jaime Gama, na sessão de encerramento do Congresso da Cidadania, tendo em conta o relevo que um dos jornais, o Diário Insular, lhe concedeu, na altura da sua eleição.

Nada menos que uma prestigiosa 5ª página.

Até há quem aposte em 1ª página, com a indispensável entrevista.

Aguarda-se, com mal disfarçada ansiedade!

Costa Neves, O Sistema Imunitário Perfeito








Todos nós temos consciência que Costa Neves gozou durante toda a sua longa carreira política de "imunidades" bem singulares.

Não creio que alguém tivesse imaginado que as tais imunidades fossem tão eficazes que deixassem a ideia de se prolongarem mesmo para além do exercício efectivo de funções.
Mas, deve ter sido essa a imagem que Costa Neves deixou junto dos jornalistas e dos jornais para eles se esquecerem que ele já não era deputado mas se lembrarem de que ele ainda era imune.
Que o "Espírito Santo", que ele mostra tanto ter venerado, bem até ao fim do seu mandato de Ministro da Agricultura, o continue a proteger com o dom da santa imunidade! Para Sempre! Amén!

segunda-feira, maio 09, 2005

Europa: A visão de Jacques Le Goff




Jacques Le Goff é um dos grandes historiadores franceses e um especialista da Idade Média. Além de obras consideradas clássicas sobre o pensamento medieval publicou recentemente "L'Europe est-elle née au Moyen Age ?" Em entrevista ao Nouvel Observateur disse o seguinte sobre a Europa:

"Je pense que l'évolution de l'Europe, depuis le Moyen Age, a été d'aller vers la laïcité.

L'Europe actuelle et l'Europe de demain, l'Europe que nous construisons ne peut qu'être laïque.

Par conséquent, j'ai été satisfait de voir que l'on a écarté du préambule du traité constitutionnel l'évocation du christianisme comme élément premier de l'Europe.

En revanche, dans l'évocation qui a été faite de son passé idéologique, je crois qu'on aurait pu citer le christianisme, la Grèce et les Lumières.

Défendre l'identité laïque européenne n'est pas un déni de sa filiation chrétienne.

La laïcité a eu d'abord une utilité historique.

Elle a servi à se battre contre les exigences insupportables de l'Eglise.

D'autre part, elle est l'affirmation qu'il n'y a pas de religion officielle, et que la religion est une affaire privée qu'il faut respecter.

L'historien n'est pas un prophète. Je crois toutefois que les religions sous leur forme institutionnelle sont appelées à dépérir. Mais ce sera très long. Parce que l'histoire marche très lentement.

L'extravagante «papolâtrie» contemporaine est le type même du chant du cygne. Un chant du cygne superbe d'ailleurs".

Europa: A Visão de Joseph Ratzinger ( Bento XVI)





Da obra de Joseph Ratzinger, "Europa, os seus fundamentos hoje e amanhã", retiro as seguintes considerações:
Ao enunciar "os elementos fundantes" que, segundo ele, "não deveriam faltar na futura constituição europeia diz que " A validade da dignidade humana, prévia a todo o agir político e a toda a decisão política, remete finalmente para o Criador. Somente Deus pode estabelecer os valores que se fundam na essência do homem e que são intangíveis.
O facto de haver valores que não podem ser manipulados por ninguém é a verdadeira e autêntica garantia da nossa liberdade e grandeza humana. A fé cristã vê nisto o mistério do Criador e da condição de imagem de Deus que Ele conferiu ao homem".

Noutra passagem acrescenta:

"A fé no Deus criador é a garantia mais segura da unidade do homem".

(...) É verdade que a racionalidade é um sinal distintivo da cultura europeia. Em certo sentido, foi com ela que a Europa conquistou o mundo, porque a forma de racionalidade que se desenvolveu em primeiro lugar na Europa modela hoje a vida de todos os continentes. Mas esta racionalidade pode tornar-se devastadora, se se separar das suas raízes e se definir como único critério a possibilidade técnica".
Em jeito de conclusão afirma: "Para as culturas do mundo, a profanidade absoluta que se foi formando no Ocidente é algo de profundamente estranho".

O Ângulo Morto Germânico




"Dantes eu pensava que aqui, no centro dos acontecimentos, o sítio para onde tudo converge, tinha-se uma perspectiva melhor, um campo de visão mais largo.

Mas nós estávamos nos bastidores, e não sabíamos o que se passava no palco.

Só o realizador conhecia a peça, cada um decorava apenas o próprio papel, e ninguém sabia exactamente qual era o papel do outro.

Nenhuns boatos chegavam até nós, não havia nenhuma emissora inimiga, nenhuma opinião divergente, nenhuma oposição. Havia apenas uma opinião e uma convicção, por vezes dava a sensação de que todos usavam as mesmas palavras, as mesmas expressões.

Foi preciso primeiro presenciar o trágico desfecho, primeiro voltar à vida normal para poder ver tudo com clareza. Na altura, eu padecia de uma vaga sensação de frustração, de uma angústia que não conseguia identificar, pois o contacto diário com Hitler não dava uma forma concreta a nenhum desses pensamentos".

(...) "Por vezes, eu via os conselheiros, generais e colaboradores de Hitler saírem das reuniões com o Führer com rostos consternados, a morderem os charutos e a resmungar.

Com alguns deles tive oportunidade de falar posteriormente.

E embora fossem mais fortes, sábios e experientes do que eu, não era raro irem ter com o Führer munidos de uma determinação ferrenha, de documentos e argumentos impecáveis, para o convencerem da impossibilidade de cumprir uma ordem, da inviabilidade de uma orientação, e ele pôr-se a falar e antes mesmo que terminasse, todas as reservas tinham-se dissipado, tornando-se sem sentido face à sua teoria.

Eles sabiam que havia um problema qualquer, mas não sabiam precisar qual era.

Saíam desesperados, curto-circuitados, vacilantes na sua dantes tão inabalável opinião, como que hipnotizados.

Penso que muitos tentaram opor-se a essa influência, mas muitos cansaram-se e resignaram-se, e deixaram o barco correr até ao trágico fim.

Mas, conforme dizia, primeiro foi preciso uma derrocada total, um desfecho trágico e muitas desilusões até eu ter clareza e segurança.

Na altura, a vida passava-me ao lado como um riacho tranquilo, eu desfrutava o Verão junto dos lagos no meio de bosques a perder de vista.

Agora, em retrospectiva, quase não me lembro das coisas terríveis que se passaram no mundo em 1943.

A Wehrmacht alemã marchou contra Estalinegrado, e as cidades alemães começaram a sentir a guerra vinda do ar.

Goering fez o seu famoso discurso «Eu não me chamo Goering, se um único avião inimigo aparecer sobre Berlim.»

E as sirenes começaram a gritar, não apenas em Berlim, mas em todos os pontos do Reich".