Anibal Pires descontente com quê?
Com a política. E com o PS.
Dão a entender os jornais.
Com a política, parece-me mau prenúncio para um líder em estágio.
Com o PS, é mais ou menos genético, nos camaradas do PC.
Mais preocupante é que me parece descontente, além de com a política e os seus altos e baixos, também com a lógica.
Com a tradicional lógica formal, seguramente. Mas também com a própria lógica dialéctica. A verdadeira alma do materialismo dialéctico, que, por definição, todo o comunista não pode deixar de acatar fervorosamente.
Como se sabe, Marx pretendeu colocar sobre os pés a dialéctica, que, segundo ele, Hegel teria invertido, pondo-a a andar sobre a cabeça.
Aníbal Pires, a avaliar pelo que consta dos jornais, é muito mais radical. Põe-na de joelhos perante o factos. E de costas para eles.
Resumamos. Do que dizem os jornais.
Aníbal encerrou negociações com o PS...que nunca chegaram a ser abertas.
Mais.
Aníbal afirma, categórico, que encerrou "definitivamente"... negociações, que nunca chegaram a estar "provisoriamente" abertas.
Mas, então, encerra-se o que nunca se chegou a abrir? Isto é muito mais que a negação da negação que, segundo a lógica dialéctica, toda a afirmação contém.
Por não ter o PS aberto negociações com o PC para as autárquicas, Aníbal conclui, com muito mais dialéctica do que lógica, que o PS "não tem um projecto alternativo para a Câmara Municipal de Ponta Delgada. ( "A mais importante do arquipélago", acrescenta-se como refrão, que espero da pena do jornalista e não da sólida formação autárquica de Aníbal, que, ao contrário de alguns jornalistas, decerto, saberá, que não há quaisquer critérios válidos para dizer, por exemplo, que a Câmara de Lisboa é mais importante que a do Porto ou de Coimbra...).
Até pode acontecer que Aníbal tenha razão sobre "os projectos alternativos" do PS para a Câmara de Ponta Delgada, mas, no seu raciocínio político-dialético, há qualquer coisa a mais ou a menos. Do lado das premissas ou do lado da conclusão. Ou do lado do que Aníbal faz com as conclusões das suas premissas.
(NB. Não confundir com primícias da sua liderança. Estas, acho que ainda ninguém percebeu se são mais (com)prometedoras do que prometedoras. Ou, dialecticamente ( ou antes "anibalecticamente"), precisamente o contrário do contrário disto mesmo).
E mais e mais exemplos furtivos de uma nova lógica em que a afirmação não inclui...mas também não exclui a sua própria negação.
Aníbal não exclui, mas também não ...inclui
a) "a hipótese de avançar (sic) como candidato à Câmara de Ponta Delgada";
b) "outros nomes que reúnem condições para serem bons candidatos";
c) a evidência que "qualquer eleição que dispute é sempre encarada na perspectiva de um teste à liderança"
d) "Ao nível interno (do PC, claro) esta leitura não se faz".
(Como se vê nesta afirmação há resquícios claros de uma lógica tradicional do PC, que não duvido, Aníbal conseguirá, "anibalecticamente", superar no futuro.)
e) Quanto ao ex-coordenador do Partido, José Decq Mota, Aníbal mantém-se anibalecticamente coerente. Não exclui nem inclui o que quer que seja, apesar de saber que " os órgãos locais do partido tendencialmente se inclinam (no PC deve ser uma posição "tendencialmente" pouco cómoda) para esta solução.
Mas Aníbal mantém Decq Mota na posição que, por direito próprio de longos anos, ele adquiriu:
a de "melhor candidato para":
Para as autárquicas
Para as regionais
para as nacionais
para as europeias
para os órgãos deliberativos do Partido
para os órgãos executivos do Partido
Para tudo o que tenha a marca do PC nos Açores,
anibalecticamente, não incluindo nem excluindo
a própria liderança do PC nos Açores.
Tal como foi (continua a ser?) Álvaro Cunhal no PC português.
Este é que é o grande problema para Aníbal Pires.
Que ele ainda nem sequer abriu.
E que, seguramente, não vai conseguir resolver
da expedita forma que usou nas goradas negociações com o PS:
Encerrar
(jornalisticamente)
sem ter o custo de
(politicamente)
chegar a abrir.
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