sexta-feira, maio 20, 2005

Portugal, Petrificado pelo Défice, não liga a Petra



Parece charada. E, talvez, seja mesmo.

Na verdade, é apenas uma forma, mais ou menos arrevezada, de dizer que Portugal não liga "peva" ou "pevide"... às possíveis crises do nosso mundo, porque vive acomodado e embotado, nos últimos três anos ( ou será desde Álcacer-Quibir?), pelas crises sucessivas com que amanhece nos seus dias jornalísticos, políticos, desportivos, financeiros, da justiça, etc. etc. etc. Em crise real, em crise imaginada, em crise antecipada, e outras e mais outras ainda.
Esta última - a antecipada - é a modalidade nova, alimentada pela forte (em estereópitos) imaginação dos nossos jornalistas.
Todos os dias, congeminam uma nova versão que o "perverso" governo de Sócrates estará a preparar para os portugueses!
Talvez por isto mesmo, em vão, procurei, em vários motores de busca, uma referência da comunicação social escrita portuguesa à reunião de 36 personalidades, 29 das quais prémios Nobel, na cidade de Petra na Jordânia, para reflectir sobre os problemas do mundo actual. Sobre o "Mundo em crise", mais exactamente. Reunião realizada estrategicamente, poucos dias antes da reunião do Forum Económico Mundial.
Para a comunicação social escrita portuguesa não houve estratégia que resultasse.
Encontrei referências repetidas e abundantes na imprensa brasileira, espanhola, francesa, inglesa.
Na imprensa portuguesa, nem rasto. Pelo menos, rasto que chegasse ao Sapo, por exemplo.
Aqui ficam, além da imagem de Petra e uma imagem do encontro, o link para a notícia do acontecimento, uma frase extraída do discurso do promotor da reunião, o rei Abdullah II, da Jordânia e uma reflexão de Gunter Grass, de um artigo que já anteriormente citei, sobre uma das possíveis raizes da crise futura do nosso mundo. As centenas de milhares, senão milhões, de pessoas, que, no nosso tempo, passam a vida em campos de refugiados.
A frase do rei Abdullah:
Le roi a souligné qu'au Proche-Orient "plus de la moitié de la population a 18 ans ou moins. Ils n'ont pas de mémoire d'un temps sans conflit régional. Ils voient un large fossé entre riches et pauvres"

A reflexão de Grass, referindo-se aos tempos imediatamente seguintes à derrota da Alemanha na 2ª guerra:
"A peine la liberté devenait-elle sensible qu'il fallut déjà exercer la contrainte : dans les deux Etats allemands, cela permit d'éviter la construction de camps qui auraient accueilli pour une longue période une foule de réfugiés et d'expulsés. On a ainsi endigué le risque de voir se développer aprés coup des sentiments de haine et ce besoin de vengeance qui s'installe quand on vit longtemps dans des camps et qui a pour conséquence - notre actualité le montre -la terreur et la contre-terreur."
Poder-se-á perguntar. O que é que Portugal tem a ver com tudo isto? Nesse mesmo dia 18, o único terror, vindo dos "campos,"que, em Portugal, se receava, chamava-se... CSKA!

Sem comentários: