sexta-feira, maio 27, 2005

Platão continua a explicar o Efeito-Sócrates




"Sócrates - És muito astuto, Menon e quiseste surpreender-me.
Menon - Como, Sócrates?
Sócrates - Percebo porque fizeste esta comparação (com o torpedo marmorata).
Menon - Suplico-te que me digas porquê.
Sócrates - Para que eu, pelo meu lado, te compare também.
Sei que todos os que tem formosura gostam de ser comparados, porque a comparação redunda em seu favor. Pois, as imagens das coisas belas também são belas, no meu entender.
Porém, não te devolverei comparação por comparação.
Quanto a mim, se o torpedo, estando entorpecido, produz nos outros entorpecimento, então, pareço-me com ele. Se não é assim, não me pareço com ele. Porque se levo a dúvida ao espírito dos outros, não é porque eu saiba mais do que eles. Pelo contrário. Eu duvido mais que ninguém. E é assim que faço os outros duvidarem, também.
Mesmo agora, em relação àquele assunto (em discussão), continuo a não saber o que é. E tu próprio, talvez, o soubesses, antes de falares comigo. Porém, neste momento parece que já não o sabes.
Apesar de tudo, quero examinar e procurar contigo o que possa ser (este assunto).
Menon - E que meio vais adoptar, Sócrates, para indagar o que, de nenhuma maneira, conheces? Que princípio te vai guiar na indagação de coisas que ignoras completamente? E mesmo que chegasses a encontrá-lo, como o reconhecerias, não o havendo nunca conhecido antes?
Sócrates - Compreendo perfeitamente o que queres dizer. E repara também quão fértil em questões é o tema que acabas de abordar. Nesta perspectiva, não é possível ao homem indagar nem o que sabe nem o que não sabe. Não indagará o que sabe, porque já o sabe. Por isto, não necessita de qualquer indagação. Nem indagará o que não sabe, porque nem sabe o que há-de indagar".
Platão - Menon

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