domingo, maio 08, 2005

QUANDO (cont.)



Quando os reformadores devem ser reformados;

Quando a incompetência acusa o espelho que a revela dizendo que a culpa é do espelho;

Quando o direito constitucional é uma subdisciplina militar e substitui a disciplina pura e simples;

Quando plebiscito é palavra mágica para resolver aquilo que a imaginação e a vontade dos que a pronunciam não souberam resolver até hoje;

Quando se dá ao proletariado a ilusão de decidir o que já foi decidido à sua revelia, e a ilusão maior de que é em seu benefício;

Quando os piores homens reservam para si o pregão das melhores ideias, falsificando-as;

Quando é preciso ter mais medo do governo do que dos males que ao governo compete conjurar;

Quando o homem sem culpa, à hora de dormir, indaga de si mesmo se amanhã acordará de sentinela à porta;

Quando os generais falam grosso em nome de seus exércitos, que não podem falar para desmenti-los;

Quando tudo anda ruim, e a candeia da esperança se apaga, e o If de Kipling na parede não resolve;

Então,

é hora de recomeçar tudo outra vez, sem ilusão e sem pressa, mas com a teimosia do insecto que busca um caminho no terramoto.

Correio da Manhã, 14/09/62

Sem comentários: