sexta-feira, dezembro 31, 2004

MAS A PALAVRA, SENHORES, PORQUÊ?

Neste último dia de 2004, em que a PALAVRA - em que tudo o que é próprio do homem começa e acaba- revelou a sua OMNIPOTÊNCIA, do nada criando mitos e guerras (armas de destruição maciça/petróleo por alimentos; Cimeira de guerra/Cimeira de paz; Cimeira dos três/Cimeira das Lajes (são quatro); arguidos/vítimas, unilateralismo / multilateralismo, etc. etc.) e a sua IMPOTÊNCIA, perante a tragédia asiática desta última semana do ano, deixemos que, da PALAVRA de dizer e de silenciar, nos fale o poeta EUGÉNIO DE ANDRADE.


AS PALAVRAS



São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são de noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



O SILÊNCIO



Quando a ternura
Parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
(As minhas desculpas, por não ter conseguido respeitar a disposição gráfica original dos dois poemas. O meu (des)conhecimento dos segredos do html não chegou para mais)

quarta-feira, dezembro 29, 2004

O CHOQUE DE COINCIDÊNCIAS!

Não faço a menor ideia se a última edição do "Choque de Gerações" ficará na história da nossa regional RTP.
Até porque não tive oportunidade de assistir ao programa desde o seu início.
Mas assisti ao suficiente, para testemunhar uma singularidade que o mínimo de pudor profissional e respeito pelos espectadores obrigaria a evitar.
A chamada reportagem de rua, sobre a personalidade do ano nos Açores, além de ter sido feita de modo a provocar situações que induziam o desrespeito total do repórter pelas pessoas entrevistadas e pela credibilidade do seu próprio trabalho, foi da responsabilidade de um repórter com estreitas ligações familiares a um dos nomes que veio a ser mencionado nessa entrevista como possível candidato ao título de figura açoriana do ano !
É evidente que toda a gente ficou "convencidíssima" de ter sido ao acaso da rua, que o repórter entrevistou essa pessoa, ainda bem recentemente alto dirigente e representante do mesmo partido do seu familiar. E que, toda a gente também percebeu que foi com a mais santa das ingenuidades que aquele ex-dirigente deixou cair o nome do familiar do repórter!
Tudo isto com intervenientes que trazem a marca de um passado lamentável nesta área do favorecimento familiar!
É de enaltecer o esforço partilhado, de inovação e reformulação em diálogo com sectores interessados, que os responsáveis e alguns participantes do programa têm desenvolvido. Se não for por outras, ao menos por esta razão, o programa pode prenunciar um novo esforço da regional RTP para fugir ao seus tradicionais figurinos estereotipados e burocráticos.
Aparentemente, porém, parece haver pessoas interessadas em que o programa acabe por ter lugar reservado na históriatelevisa televisiva por outras muito más e lamentáveis razões!
Chega, de regionalização do disparate e de falta de senso!

CICLONE (de gralhas) EM DEZEMBRO

Estou em dívida comigo próprio em dois "post" sobre as malfadadas gralhas.
Este é o primeiro.
Devo este primeiro, por respeito a um comentário do Cristóvão de Aguiar sobre as "gralhas insolentes".
Bem sei que é com atraso pouco cibernético que volto ao assunto, mas julgo que convém fazê-lo, porque podem ter ficado na mente de quem nos tenha lido, mais dúvidas sobre a matéria do que aquelas que eu ou o Cristóvão de Aguiar, decerto, desejaríamos.
Não pretendo alimentar qualquer polémica sobre o tema com Cristóvão de Aguiar, com quem venho tentando aprender a bem-escrever português, pelo menos, desde "A Semente e a Seiva". Há mais de um quarto de século, portanto.
Posso ter sido mau aluno, mas tal nem significa que não tenha direito a opiniões próprias sobre o assunto ou que, exprimindo-as, esteja a tentar "ensinar o Padre-Nosso ao Vigário".
No meu "murganhito, "encontrou Cristóvão de Aguiar várias maleitas.
A que considero mais importante é a que se relaciona com as duplas Forum/Fora e Curriculum/Curricula.
Nenhuma das consultas feitas (e foram várias) abonam em favor da opinião de Cristóvão de Aguiar. Ambos os termos ou são considerados palavras invariáveis, quando aportuguesados ou, se utilizados no plural, deviam sê-lo segundo as regras do português (foruns ou curriculuns, por exemplo), mas nunca usando o plural latino.
Esta opinião é a aceite e fundamentada no Ciberdúvidas do SAPO, como pode ser comprovado nos linkes seguintes: forum e fora, curriculum e curricula.
Para quem não se queira dar ao incómodo dos linkes, acrescento apenas que faz tanto sentido usar "fora" ou curricula", como usar "memoranda" a fazer de plural, em vez de "memorandos". E que o "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa", que regista cerca de 30 acepções diferentes da palavra "fora", não a refere no sentido de plural de "forum". E o "Houaiss" é considerado o mais exaustivo dos actuais dicionários da lusofonia.
Quanto às restantes "morganhices" do meu texto, que a inquisitorial ratoeira do Cristóvão teria apanhado, não me parece necessário convocar um ou vários "forum" de linguística, por causa delas. Ou invocar um ou vários prestigiados "curriculum" para o efeito.
Assinalo apenas que "clima", no sentido de "ambiente", é registado por todos os dicionários que conheço, e não consta ter sido acusado de "brasileirismo foleiro", por exemplo, o "Grande Dicionário da Língua Portuguesa", de José Pedro Machado, ainda mais, abonado com o nome da "Sociedade de Língua Portuguesa."
Também não encontrei qualquer fundamento, para condenar expressões como "tolerante para" ou "pode dispensar". Nem sequer, nenhuma, das muitas e contraditórias regras para o uso do hífen, me obriga a escrever boa-fé em vez de boa fé.
Mantenho o entendimento que devem, todas elas, ser consideradas matéria de livre opinião, e não de qualquer decisão ex cathedra de nenhum "forum" de um só perito, ou de vários, com importantes curriculum/currículos.
Para todas estas questões, e muitas outras, remeto os interessados, para o já referido Ciberduvidas.sapo.pt.
Para algumas das questões atrás referidas podem ser "clinkados" os linkes seguintes: clima, pode dispensar, regência das palavras, uso do hífen, hífen e o novo acordo.
Quem ainda estiver com disposição para uma leitura sobre temas afins desta problemática pode ler Português- língua abastardada.com.

sábado, dezembro 25, 2004

O NATAL DE "VER"

O Natal é uma daquelas datas, à qual nunca consegui ficar indiferente, mesmo naquelas fases da vida em que tudo se põe em questão. Este carácter intangível da data mantém-se na família. Com toda a sua miscelânia de versões tradicionais e modernas. O presépio convive com a árvore de natal. O pinheiro natural, com o seu sucedâneo de plástico. As séries cintilantes da árvore, com as velas no fundo da gruta com a trindade humano-divina de Jesus, Maria, José e a trindade animal do burrinho, da vaquinha e da ovelhinha. Não esquecendo a trindade régia do Gaspar, Belchior e Baltasar.
Mas o que eu pensava trazer para este "post"não era esta minha vivência pessoal da data, mas aquilo que julgo serem as suas raízes, pela pena de um nome quase completamente esquecido da literatura portuguesa.
Trata-se de Brito Camacho (1862-1934), que foi importante político da primeira república, jornalista e prolífico escritor.
A sua obra de contos "De Bom Humor", abre com um conto intitulado "A missa do Galo", de que transcrevo a passagem que originou o título deste "post".
" Havia sempre, no pequenino rancho, quem perguntasse à comadre Antónia porque se chamava àquela cerimónia a missa do galo, e porque era ela dita à meia noite, quando todas as outras missas eram ditas, as do domingo, das onze para o meio dia, e as da semana logo de manhã cedo, frequentadas estas só pelas velhas.
A comadre Antónia explicava:
- O menino Jesus nasceu à meia noite; a missa que se diz a esta hora é em acção de graças pelo seu nascimento. Os galos não costumam cantar tão cedo; mas naquela noite, mal souberam que o menino tinha nascido, desataram a cantar. Quando o menino fez um ano, rezou-se a primeira missa da meia noite, e um galo, sem ninguém saber donde tinha vindo, apareceu na cabeça do padre, cantou como fazia na capoeira, e desapareceu como tinha vindo, sem ninguém saber para onde foi.
Em você sendo grande - dizia a comadre Antónia, virando-se para mim - verá estas coisas nos livros e outras muitas que os fiéis devem saber, para não cairem em pecado.
Toca a deitar."
Nesta era da usura da imagem, em que, muitas vezes, acabamos por ficar incapacitados de ver para além dela, o Natal faz-nos (faz-me) regressar a esses tempos de um universo mitológico de explicações claras para tudo, que nos permitia "ver estas coisas nos livros" e na vida.
Depois de ter saído desse universo há muitos anos, sinto-me feliz por a ele poder voltar. Nem que seja...um dia por ano!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

MAIS UMA "ILHA NOVA" ?

Um dos acontecimentos que traduz uma das atitudes marcantes dos açorianos perante as limitações físicas e vitais da sua realidade circundante, foi a busca, durante séculos, de uma "ilha nova".
Na minha opinião, esta busca persiste. Para a Região e para a maioria dos seus habitantes.
Para mim, ter entrado neste mundo da blogolândia regional, acabou por ser a descoberta de uma "ilha nova" que um grupo de açorianos, dia-a-dia mais alargado, está construindo.
Confesso que fui agradavelmente surpreendido com algumas das regras que vim encontrar nesta cibernética "ilha nova".
A primeira delas será a de receber com efusiva hospitalidade e com fraternidade amiga os que vão aportando a esta "ilha".
Pelo menos, foi aquilo que, para meu espanto, me aconteceu.
Poderia, porventura, imaginar que o foguetabrase do Nuno me abraçasse e abrasasse no fogo da sua consideração, amizade e afecto?
Ou que o CHÁ VERDE do Guilherme me escancarasse as portas das grandes expectativas de rasgos futuros, quando eu ainda mal engatinhara no primeiro "post"?
Ou que o Sala de fumo reservasse espaço próprio e de destaque, para manifestar o seu entusiasmo com um texto meu que considerou mais interessante?
O mesmo poderia dizer daqueles que, como o Francisco do ENTRAMULA! e a Rosa Maria do AZORIANA/AÇORIANA vieram reivindicar a sua condição de meus antigos alunos.
O mesmo poderia continuar a dizer daqueles que logo me acolheram nos seus "Linkes". Não menciono nenhum explicitamente, apenas para não omitir alguns que, eu próprio, ainda não terei descoberto.
Não sou tão ingénuo que não perceba que não foram superadas todas as barreiras que, no mundo real, dividem os participantes nesta aventura. Mas não tenho dúvida que algumas delas foram vencidas. No mundo em que vivemos, de exasperação das diferenças e ampliação dos conflitos, este pequeno (ou grande?) passo é de saudar.
Por isto mesmo, não podia deixar passar o dia de hoje, com todos os significados históricos que tem, e com os que cada um de nós, em geral, lhe acrescenta, para assinalar e, pela parte em fui bafejado, agradecer e rejubilar com esta "ilha nova".
Um renovado Natal para todos na "ilha nova" destas velhas ilhas!

terça-feira, dezembro 21, 2004

O VICTOR E A SUA CRUZ

A cruz mais pesada do Victor não é ser Cruz.
É ser Victor. Literalmente Victor. Vencedor. Sempre Vencedor.
Vencedor, quando decide criar uma coligação. Que era mais do que uma coligação. Era um movimento. Para todos os açorianos.
Não coligou o PP para a campanha, nem movimentou os açorianos para o voto. Mas o Victor continuou Victor. Literalmente Victor.Vencedor. Sempre Vencedor.
Vencedor, quando se demite na noite das eleições. Por sentido de responsabilidade.
Vencedor, quando regressa para se recandidatar ao cargo de que se demitiu. Por igual sentido de responsabilidade.
Vencedor, quando se candidata à Assembleia Regional. Vencedor, quando se candidata à Assembleia da República. Vencedor, quando se ausenta da Assembleia Regional por causa da Assembleia da República. Vencedor, quando se ausenta da Assembleia da República por causa da Assembleia Regional. Vencedor, quando só aparece na Assembleia da República para colher o que outros semearam.Vencedor, quando não aparece na Assembleia Regional, porque aí nada havia para colher, porque não houve ninguém que tivesse capacidade de semear para ele. Mas ele é o Victor. Literalmente Victor. O Vencedor.
Vencedor, nos Açores, quando construiu o seu PSD sobre os pés de barro de uma geração de delfins. Vencedor, no continente, quando aceitou ser Vice do PSD de Santana em troca de um fugaz momento televisivo. Como líder demissionário, nada nem ninguém representava dos Açores. Passou a não representar nada nem ninguém no PSD nacional.
Nos Açores, reduziu um partido, outrora, hegemónico na sociedade açoriana, a uma facção. No continente, só se podia sentir bem, noutra facção. A que está a meio caminho entre os santanistas e as santanetes. Mas ele é Victor. Literalmente Victor. Sempre Vencedor. Para sempre Vencedor.
Vencedor, porque conseguiu iludir metade da sociedade açoriana com as suas perspectivas de vitória, solidamente fundadas na opinião publicada e nas sondagens apropriadas. Vencedor, porque, depois de derrotado, consegue iludir o seu próprio partido de que continua vencedor.Victor. Literalmente Victor. O Vencedor. Ele próprio é o seu arco e o seu triunfo.
Mas que Cruz, Victor!

segunda-feira, dezembro 20, 2004

NUNCA DIGAS DESTA GRALHA NÃO BEBEREI!

De especial menção são merecedoras as gralhas em títulos. Eis um exemplo notável de um credenciado e respeitável órgão da imprensa local. No mesmo rasgo jornalístico conseguiu-se a imagem do dia e a gralha do ano!




O seu êxito mais que assegurado levou à decisão editorial de consagrar o singular fenómeno em obra apropriada.

É como segue a descrição completa da ficha de identificação do espécime bibliográfico e inseparáveis gralhas.


Largas Gralhas Têm 100 Anos

Autabiografia de Pinta da Costa


Preço: EURA 25,00
Editor: A'NIÃO GRÁFICA ANGRENSA
Ano de Ediçã: 2004(duas mil e quatra)
N.ª de Páginas: 250
Encadernaçã: Capa Mal
Dimensães: 17x24 cm

Aquela jornalística imagem do dia viu a luz pública no passado dia 8 do corrente. No dia 14, o mesmo reputado órgão tentava uma réplica. Saiu menos brilhante, mas também justifica honrosa menção .

Temos de reconhecer que se trata de um saboroso título! É gostoso e degustativo!

E depois não digam que eu ando a promover uma monumental caçada bloguística às gralhas jornalísticas! Elas é que nos atacam as papilas e as pupilas!

quinta-feira, dezembro 16, 2004

GRALHAS INSOLENTES OU ERROS IMPERDOÁVEIS?

Tenho de reconhecer que as gralhas me incomodam particularmente. Se for num texto meu, além de me incomodarem, envergonham-me, diminuem-me aos meus prórios próprios olhos e aos dos outros.
Mal comparando, sou talvez mais tolerante para um deslize na expressão ou no pensamento do que para uma gralha.
Porque, instintivamente, devo pensar que todo o erro é desculpável. Até o cometido por má fé ou preconceito? Até esse.
Mas a maldita gralha, sobretudo, em textos que, como são, (ou deviam ser) todos os publicados depois de passarem pelo crivo de vários profissionais e chegarem às mãos de um cliente, que só os compra e os paga porque confia nesse pressuposto do profissionalismo atento e rigoroso.
Com esta mania, como se deve calcular, tenho dias com desilusões especialmente amargas.
Imagine-se que, outro dia, comprei um livro, que há muito tempo ando para ler. O Jogo das Contas de Vidro, do Hermann Hesse.
Trata-se de uma 5ª edição, com data de 2003, da Dom Quixote (a 1ª foi em 1989).
A própria capa traz, quase como antetítulo do livro, Prémio Nobel de Literatura. Cria-se, assim, à partida, um clima de inevitável exigência e rigor.
Infelizmente, desmentido na terceira página da obra. E logo no índice. Que não pode dispensar especiais cuidados.
Somos agredidos por uma monumental gralha, num texto em que se diz, em duas linhas: Na primeira, O Jogo das Contas de Vidro. Na segunda: Introdução à Sua História num Estado ao alcance de Todos.
Quem não advertir que se trata de uma gralha, repito, absolutamente imperdoável numa obra destas em 5ª edição, terá uma grande desilusão, ao verificar na página 6, que repete, em destaque, no meio da página: O Jogo Das Contas de Vidro, Introdução à sua História num Estudo ao Alcance de Todos. É uma simples vogal, poderá dizer-se. Mas que abismo entre um Estado e um Estudo, terá de reconhecer-se!
Note-se que, nestas palavras, todos os pormenores contam, até a simples distribuição entre maísculas e minúsculas. O própria próprio tema da obra a isto obriga. Mas, como se pode verificar, nem a este aspecto se dedicou grande atenção.
Malditas Gralhas! Ou maldito quem nelas cai, uma, duas, três vezes ?
Mais há mais ainda. Na mesma página 3. No mesmo índice, escreve-se: Os Três Curricula. Nem mais.
Ora bem. Ou se escrevia em português escorreito : Os Três Currículos. Ou se recorria ao termo latino "curriculum". Mas, neste caso, dizem as boas regras que este estrangeirismo deve ser tratado como uma palavra indeclinável. Por isto mesmo, sempre "curriculum". Quer seja um... três...ou uma centena...
É verdade que se tornou, hoje, corrente, quando se frequentam reuniões em todas as latitudes do globo, falar da presença de alguém em vários "fora". Estando a referir-se ao plural de "forum". Também neste caso se trata de erudição a mais e de português a menos.
Não vá este já longo "post", sem mais uma observação .
Esse aziago dia ainda ficou marcado pela agressão de mais duas gralhas de um respeitável "jornal de referência" da imprensa regional. No próximo desabafo bloguístico falarei disto mesmo.

terça-feira, dezembro 14, 2004

OS CAVALOS DOS CORREIOS CORREM MESMO?

Os dois alados equinos desta sugestiva gravura bem podiam ser a imagem de marca dos nossos CTT. Mas nunca foram. Nem são. E tenho algumas dúvidas que algum dia venham a ser. Explico a previsão e algumas das circunstâncias que me levam a continuar com este tema.
Não. Não se trata de nenhuma obsessão. Muito menos de uma campanha.
Apenas acontece que ontem tive de voltar aos CTT de Angra para o envio de mais uma insignificante carta.
A cena foi a habitual. A mesma máquina da senha. A mesma grande distância entre o número que ela me destinava, (0463) e o número do quadro eletrónico do cliente a ser atendido (o435) naquele momento (15h18).
Mais ou menos o mesmo número médio, constante, de 20 pessoas dispersas pela sala. Excepto os seis felizardos contemplados com os únicos escassos lugares sentados de que dispõe o moderno e vistoso mobiliário da sala.
A mesma expressão de irritação mal contida dos utentes que vinham entrando, perante a abissal diferença entre o número premiado, que a máquina lhes ofertava e o número real a ser atendido e que lhes ditava a sentença de mais de meia hora de fatal espera pela sua vez. A minha chegou pelas 15h50. Nada mau. Para os censuravelmente apressados tempos que correm no século XXI. Apenas 32 minutos! Só mais um minuto do que da última vez!
O curioso é que a larga maioria dos clientes tinha todo o aspecto de já terem entrado no novo milénio. Os CTT de Angra é que, aparentemente, não.
Com efeito, em vez dos três funcionários nos 6 guichés, que encontrara da última vez, agora eram mesmo 6.
Isto quer dizer que vi mais funcionários! Mas não vi nenhum equipamento do tipo das balanças que qualquer vulgar mercearia de qualquer ruralíssima freguesia dos Açores dispõe, para indicar automáticamente o peso e o preço dos mais variados produtos.
Será verdade mesmo, que tais maravilhas da técnica actual não são adaptáveis a um serviço postal com uma gama muito inferior de produtos e de funções do que qualquer humilde mercearia? E a que o utente, que não estivesse interessado no contacto personalizado com o funcionário, pudesse aceder.
Não acredito que tais máquinas não existam e menos ainda acredito que os nossos CTT não as usem ou não tenham planos para a sua aplicação. Resta-me perguntar, porque não chegaram aos CTT de Angra, que acabam de sair de uma profunda remodelação?
Penso que seria de exigir mais que apenas dois alados equinos voando...para o passado.

domingo, dezembro 12, 2004

...O SERVIÇO NORMAL É QUE AFECTA

Greve dos CTT não afectou os utentes, diz convictamente a Administração .
Posso testemunhar, com dois exemplos recentes, que o funcionamento dos serviços dos CTT, em dias normais, é que afecta, e muito, os seus utentes.
Há cerca de um mês, enviei documentação da Terceira para S.Miguel, em correio azul, porque me garantiram aos balcões dos CTT em Angra que, no dia seguinte, ela seria entregue no seu destino.
Cinco(5) dias depois, recebi a confirmação telefónica que a haviam acabado de receber! Resignei-me, pensando que a frágil cartinha teve de vencer a "distância histórica" que os séculos cavaram entre a Terceira e S.Miguel. Se calhar essa modalidade de correio azul, apenas significa a exigência de uma escala técnica na ilha da dita cor! Sempre o peso da História!
Alguns dias depois, tive de voltar à mesma Estação, para enviar, de novo, correspondência. Dirigi-me à moderníssima máquina que distribui as senhas de acesso aos serviços. A senha que me coube em sorte certificava, com todo o rigor, a hora a que a levantara ( 14h12) e o meu número de atendimento(224). Nesse momento, pude ver, num cintilante quadro electrónico, que estava a ser atendido o cliente 205.
Preparei-me para uma paciente espera, em face de um balcão com 6 guichés de atendimento, servido por três funcionários.
Assinalei na já referida senha, as 14h43,(uma comprida meia hora depois!) em que fui atendido, para expedir uma simples carta para Lisboa. Prevenindo o risco da tal volta pelo Faial, expedi-a em correio normal.
Espero que lá tenha chegado no dia da greve! Como utente crédulo e confiante, assim não serei afectado pela anomalia normal dos serviços dos CTT!

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quarta-feira, dezembro 08, 2004

A MUSICA SALVA

"Música-Esperança" é uma ONG que administra a "Orquestra Para A Paz", constituída por árabes e israelitas e que tem actuado, para além do Médio Oriente, em prisões, hospitais e bairros da lata por todo o mundo.
É dirigida pelo pianista argentino Miguel Ângelo Estrella que trocou uma prometedora carreira artística nos circuitos comerciais internacionais por este testemunho permanente de convivência humana e musical para além das divisões da religião e do nascimento.
Actualmente em digressão por França, posto perante a questão da utilidade para a paz desse testemunho de convivência através da música, respondeu:
"Não sou um angelical ingénuo. As coisas são complementares. A orquestra limita-se a dar concertos e a ser a reunião de músicos vindos de horizontes diversos e proporciona contactos extemamente fecundos com os mais variados públicos.
A paz é possível. A segurança em Israel é possível. Um verdadeiro Estado palestiniano é possível.
É multiplicando as pressões que se chegará a tudo isto. Entre outras, aquelas que a Europa pode exercer.
Não se pode deixar a paz só nas mãos de homens como Sharon e Bush.
A nossa próxima missão é reconstruir a vida musical na Palestina. Este objectivo é vital. Na América Latina, onde a Música Esperança trabalha há mais de vinte anos, não há um só jovem das favelas com preparação musical que tenha caído na droga, no álcool, nas seitas ou na prostituição. Nem um único. A música salva".
Neste dia 8 de Dezembro em que, em Portugal, se vive a comemoração de um mistério que transcende as leis da natureza, não será de todo despropositado lembrar o exemplo de uma fé profunda na capacidade do espirito humano para superar o que parece ser apenas a força dos preconceitos sociais entre pessoas e povos.
Que o possível, se faça!
Posted by Hello

terça-feira, dezembro 07, 2004

AFINAL, NEM GANHOU A PRIMEIRA PÁGINA

Afinal, só quando li a edição impressa do EXPRESSO é que vi que tinha presumido, em excesso, do impacto da atitude de Mota Amaral, ao tentar dar o primeiro passo para Belém.
Não chegou à primeira página do EXPRESSO.
Está apenas entre os mais comentados.
Não deixa de ser um lugar honroso.
Mas convenhamos que, para um jornal que se está a especializar no lançamento dos candidatos presidenciais da direita portuguesa, revela que a cotação de Mota Amaral naquele campeonato o mantêm apenas na divisão de honra.
Está sómente a mudar, dos humildes campos de futebol regional, que, em situações anteriores, ritualmente o catapultavam para estes campeonatos presidenciais, para um Estádio de dimensão nacional.
É um progresso, sem dúvida. Mas limitado.
Acrescente-se ainda que, ao reflectir no teor da notícia da edição impressa do jornal, confirmei uma certeza e ganhei uma dúvida.
A certeza é que, o sapiente Expresso, ao classificar o ocorrido de "LAPSO PROTOCOLAR", confirma que, do ponto de vista jurídico e formal, o Presidente da República não tinha qualquer obrigação de dar conhecimento antecipado a Mota Amaral de uma decisão ainda não tomada, embora respeitante à Assembleia a que preside.
A dúvida nova é a de saber, neste episódio da ida de Mota Amaral a Belém, quem é que salvou a face de quem?
A gafe presidencial histórica, não terá sido do Presidente da Assembleia que, ao saber pelos jornais, das diligências do Presidente da Republica para convocar o Conselho de Estado e ouvir os Partidos, se precipitou a considerar a Assembleia "ferida de morte" e a pretender enterrá-la sem demora? E que, depois da ida a Belém, como salienta o Expresso, "arrepiou caminho e se apresentou na conferência de líderes, ao início da tarde, com a firme determinação de que esta AR aproveite o melhor possível o tempo que lhe sobra"?
A quem considere, de leão, a entrada de Mota Amaral, naquela ida a Belém, como é que deve considerar aquela saída de quem "arrepia caminho"?

segunda-feira, dezembro 06, 2004

LIVROS COM AUTOR

Acontece. Com estes "postes" levantados ao sabor da última impressão. E as impressões mais fortes de hoje vieram-me de notícias sobre livros. É verdade. Não dos próprios livros. Que ainda não li. Como foi o caso do livro do "post"anterior. E vai voltar a ser a situação dos dois de que falo a seguir.
De facto, quem que é pode resistir a anunciar aos sete ventos da blogolândia, que acaba de ler o comentário a um livro sobre um pedagogo do século XIX (1770-1840) de nome Joseph Jacotot, cujo lema era:
"Ensinar sem emancipar é embrutecer".
E que dizia que o objectivo do seu método pedagógico era:
"Que todo o homem do povo possa conceber e atingir a sua dignidade de homem, conhecer a medida da sua capacidade intelectual e decidir sobre o seu uso".
Mas o mais espantoso e revolucionário era o próprio método que defendia e aplicava. O método do "mestre ignorante" e que partia do princípio que se pode ensinar mesmo aquilo que se ignora. Só é necessário ser capaz de levar o aluno a usar da sua própria inteligência.
Não. Não se trata da velha teoria da reminiscência com raízes em Sócrates e Platão. Até porque ele também afirmava que:
"A instrução é como a liberdade. Não se recebe, conquista-se".
Seja como for, vou já a correr para uma livraria "on line," para encomendar
"Le Maitre Ignorant"(cinq leçons sur l'émancipation intellectuelle). Autor: Jacques Ranciére.
Se alguém se decidir a fazer o mesmo, poderemos, depois, blogar sobre o tema.
O outro livro já está traduzido em português. É de Dominique Wolton. Um nome muito conhecido de quem se interessa pelos problemas da informação e da comunicação nas sociedades modernas. Tem por título "A Outra Globalização". Apenas direi que o seu primeiro capítulo tem por tema"Informar não é comunicar". O que, só por si, nos poderia levar de volta a Joseph Jacotot. Mas não serei eu que o farei. Pelo menos, por agora.


O ANONIMATO MEDIÁTICO

Não resisto a deixar aqui registada uma notícia lida num dos órgãos de informação regional, há poucas semanas, e que considero uma nova modalidade de atingir o anonimato: ser notícia nos jornais.

Transcrevo literalmente, título incluido:
"Em Lisboa
Professor da UA
lança livro
Em co-autoria com dois colegas de doutoramento, o docente do Departamento de Economia e Gestão da Universidade dos Açores lançou, a nível nacional, um livro sobre a avaliação de projectos de investimento.
Com o título "Avaliação de Projectos - Da Análise Tradicional às Opções Reais", e publicação da editora Publisher Team, o livro propõe-se oferecer, a quem prepara, analisa ou decide sobre projectos de investimento, um instrumento de trabalho abrangente e actual.
Na obra não faltam os contributos teóricos mais recentes para a resolução de algumas áreas menos aclaradas e praticadas no exercício da análise de projectos. É o caso do campo metodológico relacionado com o risco e de todo o domínio teórico e prático dos modelos de avaliação de opções reais. Sendo a avaliação de projectos de investimento um exercício assente em estimativas sobre o futuro e em expectactivas sobre comportamentos, compreende-se o alcance da difusão dos avanços que se façam em matéria de incerteza e de opções, de modo a fundamentar as decisões em bases de "risco calculado" e a racionalizar as escolhas."
Alguém, melhor informado do que eu, me poderá dar aquilo que a notícia me recusa, isto é, o nome do autor escondido... com o título de fora?

sábado, dezembro 04, 2004

COM TRATOS

Depois de uma manhã dedicada a espraiar o olhar por incontáveis quilómetros de terra verde e céu de cinzentas nuvens, enquanto desentorpecia os enferrujados músculos por meia duzia de quilómetros de asfalto, posso voltar ao blog.
Desde o início desta caseira aventura bloguística, ontem foi o primeiro dia que não "postei". Não é que não tenha queimado algumas horas aos tratos com o blog e acessórios. Os últimos dias têm sido uma longa luta, esforçada sempre mas às vezes inglória, contra o meu crónico analfabetismo informático, contra os trambolhões na internet e a minha caloirice blogueira.
Resultado: produtividade bem à portuguesa. Dois dias para conseguir instalar o "site meter". Mas consegui. E fui premiado com a alegria do analfabeto que soletra mais uma palavra.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

SAMPAIO - O DEFENESTRADOR

  • Nas defenestrações físicas com lugar na história (a de Praga em 1618, a de Lisboa em 1640) o nome dos defenestradores não chega a saltar para as páginas da história. Este lugar é ocupado pelo defenestrados. O salto pela janela é um salto para a história. Nas defenestrações simbólicas costuma acontecer o contrário. A queda pela janela é uma queda no esquecimento histórico. O nome do defenestrador é que fica na história. No caso de Santana e de Sampaio penso que também assim será.
  • Sampaio deve-me uma desculpa pelo que fez em Julho, empossando Santana Lopes como primeiro Ministro. Eu devo uma desculpa a Sampaio, porque nunca acreditei que ele recuperasse, em Novembro, o fôlego do semi presidencialismo que lhe faleceu em Julho. Estamos quites.
  • Em Julho, Sampaio agiu como Presidente em regime puramente parlamentar. Foi o seu momento de Rainha de Inglaterra. Com actuação de Presidente meramente simbólico e discurso de cariz semi-presidencialista. Hoje, limito-me a aceitar tudo o que maioria quiser. Amanhã, poderei exigir o direito de inventário que já hoje me assiste. O amanhã semi-presidencialista chegou... pelo entardecer de terça feira.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

PENSAMENTOS AVULSOS SOBRE A DEFENESTRAÇÃO DE SANTANA

  • Santana Lopes terá direito a ser incluído na elite restrita dos pequenos-grandes defenestrados da história política?
  • Pelo menos, metaforicamente, pode afirmar-se que Santana Lopes chegou ao poder pela porta larga das grandes questões ( défice de legitimidade partidária e eleitoral, défice de imagem como político e como pessoa, etc.) e saiu pela janela estreita das pequenas questões (a demissão de um comentador de uma televisão e a demissão de um ministro...importante apenas quando deixou de o ser).
  • A história continua a ser comandada pelos "narizes de Cleópatra". Se Cavaco Silva não tivesse escrito um artigo para o Expresso do último sábado; se o Ministro Henrique Chaves se tivesse demitido, mas não tivesse enviado para as redacções dos órgãos de comunicação social a "bomba" do comunicado; se Santana Lopes não tivesse pedido o adiamento de uma tomada de posse por causa de uma simples festa de casamento; se outras mil e uma leves "sardinhas"não se tivessem vindo a acumular, como carga mal estivada, no porão da frágil nau governativa de Santana; Se... se... se... se... se... coisas cada vez menos graves não tivessem sido o pão de todos os dias que Santana serviu a um país atónito durante 4 meses, provavelmente, hoje, dia um de Dezembro, Santana Lopes estaria de malas aviadas para a Turquia... a ajudar a dilatar a fé e o império entre os infieis.
  • Ninguém sabe para que serviu, politicamente, a corte de muitas "Santanetes" que borboletearam junto de Santana nos dias do poder. Toda a gente sabe para que serviram os fieis "Santanistas" de sempre, como Rui Gomes da Silva e Henrique Chaves. Para precipitarem a sua saída do poder. Cumpriram o fadário de todos os homens de mão que vegetam na sombra dos líderes. Sombras úteis para a conquista do poder. Sombras maléficas para o seu exercício. Por isto mesmo, os líderes ou se desfazem deles a tempo ou são as suas primeiras vítimas.