quinta-feira, dezembro 16, 2004

GRALHAS INSOLENTES OU ERROS IMPERDOÁVEIS?

Tenho de reconhecer que as gralhas me incomodam particularmente. Se for num texto meu, além de me incomodarem, envergonham-me, diminuem-me aos meus prórios próprios olhos e aos dos outros.
Mal comparando, sou talvez mais tolerante para um deslize na expressão ou no pensamento do que para uma gralha.
Porque, instintivamente, devo pensar que todo o erro é desculpável. Até o cometido por má fé ou preconceito? Até esse.
Mas a maldita gralha, sobretudo, em textos que, como são, (ou deviam ser) todos os publicados depois de passarem pelo crivo de vários profissionais e chegarem às mãos de um cliente, que só os compra e os paga porque confia nesse pressuposto do profissionalismo atento e rigoroso.
Com esta mania, como se deve calcular, tenho dias com desilusões especialmente amargas.
Imagine-se que, outro dia, comprei um livro, que há muito tempo ando para ler. O Jogo das Contas de Vidro, do Hermann Hesse.
Trata-se de uma 5ª edição, com data de 2003, da Dom Quixote (a 1ª foi em 1989).
A própria capa traz, quase como antetítulo do livro, Prémio Nobel de Literatura. Cria-se, assim, à partida, um clima de inevitável exigência e rigor.
Infelizmente, desmentido na terceira página da obra. E logo no índice. Que não pode dispensar especiais cuidados.
Somos agredidos por uma monumental gralha, num texto em que se diz, em duas linhas: Na primeira, O Jogo das Contas de Vidro. Na segunda: Introdução à Sua História num Estado ao alcance de Todos.
Quem não advertir que se trata de uma gralha, repito, absolutamente imperdoável numa obra destas em 5ª edição, terá uma grande desilusão, ao verificar na página 6, que repete, em destaque, no meio da página: O Jogo Das Contas de Vidro, Introdução à sua História num Estudo ao Alcance de Todos. É uma simples vogal, poderá dizer-se. Mas que abismo entre um Estado e um Estudo, terá de reconhecer-se!
Note-se que, nestas palavras, todos os pormenores contam, até a simples distribuição entre maísculas e minúsculas. O própria próprio tema da obra a isto obriga. Mas, como se pode verificar, nem a este aspecto se dedicou grande atenção.
Malditas Gralhas! Ou maldito quem nelas cai, uma, duas, três vezes ?
Mais há mais ainda. Na mesma página 3. No mesmo índice, escreve-se: Os Três Curricula. Nem mais.
Ora bem. Ou se escrevia em português escorreito : Os Três Currículos. Ou se recorria ao termo latino "curriculum". Mas, neste caso, dizem as boas regras que este estrangeirismo deve ser tratado como uma palavra indeclinável. Por isto mesmo, sempre "curriculum". Quer seja um... três...ou uma centena...
É verdade que se tornou, hoje, corrente, quando se frequentam reuniões em todas as latitudes do globo, falar da presença de alguém em vários "fora". Estando a referir-se ao plural de "forum". Também neste caso se trata de erudição a mais e de português a menos.
Não vá este já longo "post", sem mais uma observação .
Esse aziago dia ainda ficou marcado pela agressão de mais duas gralhas de um respeitável "jornal de referência" da imprensa regional. No próximo desabafo bloguístico falarei disto mesmo.

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