sexta-feira, dezembro 31, 2004

MAS A PALAVRA, SENHORES, PORQUÊ?

Neste último dia de 2004, em que a PALAVRA - em que tudo o que é próprio do homem começa e acaba- revelou a sua OMNIPOTÊNCIA, do nada criando mitos e guerras (armas de destruição maciça/petróleo por alimentos; Cimeira de guerra/Cimeira de paz; Cimeira dos três/Cimeira das Lajes (são quatro); arguidos/vítimas, unilateralismo / multilateralismo, etc. etc.) e a sua IMPOTÊNCIA, perante a tragédia asiática desta última semana do ano, deixemos que, da PALAVRA de dizer e de silenciar, nos fale o poeta EUGÉNIO DE ANDRADE.


AS PALAVRAS



São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são de noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



O SILÊNCIO



Quando a ternura
Parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
(As minhas desculpas, por não ter conseguido respeitar a disposição gráfica original dos dois poemas. O meu (des)conhecimento dos segredos do html não chegou para mais)

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