terça-feira, março 22, 2005

As Minhas Letras do Jornal de Letras



Nunca consegui dar ao JORNAL DE LETRAS, ARTES E IDEIAS o mesmo tratamento que, habitualmente, dou aos jornais que assino por tradição ou compro por gosto, hábito ou necessidade.
Folheá-los, mais que lê-los,
Olhá-los, mais que vê-los,
Ficar mais pelos títulos do que pelos textos,
Ler mais os colaboradores do que os jornalistas e redactores.
Antigamente, procurar mais os suplementos que o próprio jornal;
Actualmente, procurar mais o brinde ou a colecção aliciadora,
do que os próprios suplementos ou o jornal;
Deixar os jornais alastrarem pelos cantos da casa por descuido,
em vez de coleccioná-los por cuidado ou certeza de deleite
ou utilidade futura.
São muitas as razões para este tratamento privilegiado ao JL.
Há uma, porém, que prevalece sobre qualquer outra.
Há 25 anos, de persistência, resistência e continuidade, esforçada singular e meritória, que o JL me vem premiando com exemplos, amostras, pré-publicações, inéditos e revelações, sobre nomes novos e nomes antigos da literatura, das artes e da cultura do mundo da língua portuguesa.
Aos meus olhos é, sobretudo, este contributo quinzenal do JL que o transforma, de folha de papel perecível como qualquer jornal, num arquivo vivo e perene da evolução e vida da nossa cultura.
O poema de Manoel de Oliveira que ontem me serviu de entrada neste blogue é um exemplo.
Nas duas "entradas" seguintes, vou fazer a minha modesta e anónima comemoração dos 25 anos do JL, com mais dois exemplos.
Desta vez, serão dois textos de outro grande nome das letras e da cultura portuguesa, a escritora e romancista Lídia Jorge.
Esses dois textos parecem-me o exemplo perfeito, embora em miniatura, daquilo que um grande romancista, como é Lídia Jorge, consegue fazer, em meia dúzia de linhas. E que o simples ensaísta, pensador ou comentarista muito raramente alcança, com igual espontaneidade e eficácia. Transformar uma ideia simples, um mero estereótipo histórico ou pessoal ou um banal acontecimento do quotidiano numa impressiva narrativa literária.
Recordo que Eduardo Lourenço, em texto que, de momento, não consigo localizar, explicava que era precisamente esta incapacidade que o impedia de passar do ensaísmo para a criação romanesca.
Aí ficam, nas duas entradas seguintes e sem mais comentários, os dois textos de Lídia Jorge, extraídos duma reportagem sobre Jerusalém, também do último JL, comemorativo dos seus 25 anos.
Ad Multos, Jornal de Letras e José Carlos de Vasconcelos!

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