segunda-feira, março 21, 2005

Manoel de Oliveira, Faina Poética





Fui

Eu fui Bebé,
fui Cobra,
fui Leão,
fui Cão,
fui Rato.

Herdamos a malícia sorrateira
da Cobra
A coragem frontal e a força
do Leão.
A fidelidade e a raiva
canina.
A rapidez dos movimentos
e a astúcia ágil
do Rato.

Fui como tu Peixe do mar
e Ave de rapina.

Fui como tu terra
e como tu
o pó,
que voltaremos a ser.

Fui como tu
o invisível átomo.
Fui como tu
parte de tudo o que existiu,
como de tudo o que existe
e de tudo um pouco se guardará
em mim,
como em ti,
como em todos nós,
enquanto nos anime o Espírito

Esse Espírito que dá forma
às cousas,
que agita os seres vivos e
sustenta em sua força,
o peso descomunal
das cousas inanimadas.
Sou, enfim, tudo aquilo que fui.

E assim fazemos parte
Desse todo que é tudo
Organizado em ordem a um
desconserto
Desconcertado num concerto
Calculado com precisão
matemática

Pelo tal
ignorado Autor
Do qual
Inteiramente dependemos
Para a sorte ou para a dor
E o percebemos
Como Deus Criador.


(Um novo poeta, para o dia mundial da poesia.

Podem procurá-lo, onde eu o encontrei.

No nº 899 do JL de 16 a 29 de Março deste ano.

Lá, também podem ler a seguinte nota:

Poema escrito no Porto, a 12 de Dezembro de 2004, dia do 96º aniversário do cineasta.

Quanto ao cineasta, ele próprio, podem encontrá-lo aqui, por exemplo).




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