sexta-feira, dezembro 02, 2005

Algumas Horas Belas...

(…) Mas se te esqueceres ( e tu esquecerás…
/de resto tudo será esquecido, nada restará:
As alvoradas resplandecentes, as Primaveras
E os Outonos que pareciam não ter fim,
A luz vermelha que te iluminou o rosto numa tarde longínqua/
Deixa-me que te lembre, entre tantas,
Algumas horas belas(…)

(Safo, fragmento 96D)



Lembra algumas horas belas…
Deixa que a tua melancólica memória
Te lembre…
Lembra o sol de Outono,
em poente quente,
sobre as colinas de Roma.
Lembra o vulcão de milhões de lâmpadas
a implodir, em fogo, nos céus de Nova Iorque.
Lembra os rios de luz e de oiro,
nas águas nocturnas
do teu mar da tua Salga.
Lembra as sombras alongadas da vida,
na despedida do sol,
esgueirando-se pelas paredes
e pelas calçadas de Lisboa.
Lembra a plácida noite
do outono mediterrânico,
sem estrelas nem vento.
Só noite!
Lembra a feroz tempestade,
em estranja terra.
De tão certeira crueldade
que destruiu
os primeiros ninhos de andorinha
que conseguiste alinhar
nos telhados da tua vida.
Lembra…
Ou nada restará
De ti,
Na tua vida.

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