sexta-feira, dezembro 23, 2005

#1 NATAL DAS SOMBRAS


Vêm as sombras hoje ter comigo.

Vêm as sombras num cortejo lento.

(Vêm as sombras a pedir-me abrigo

Ou sou eu que as procuro em pensamento?)

Natal das Sombras!Natal das Sombras! Bem o oiço e vejo.

Bem o sinto! Andam passos no caminho...

Chegam todas as sombras num cortejo,

Sentam-se à minha volta, de mansinho...

Primeiro, a sombra de meu Pai... Meu velho,

Vem aquecer-te, que está frio no Espaço!

Vem dar-me a tua bênção, teu conselho

E o teu abraço... Ah, mas que fundo abraço!

Há tanto tempo que não vinhas! Tanto!

Já na minha lembrança era sol-posto...

Perdoa! Olha as estrelas do meu pranto

Como derramam luz sobre o teu rosto!

Vieste agora, Pai, vieste agora

A festejar comigo o dia eleito,

Na hora da Família, nesta hora

Em que a ausência é presença em cada peito!

A noite de Natal tomba ao de leve

E de mistério a natureza veste...

Lá fora há tanto frio! O luar é neve.

Mas cá dentro há calor - porque vieste...

(cont.)

(Miguel Trigueiros, in “ O Natal na Poesia Portuguesa“ de Luis Forjaz T., pag.115-116, Dinalivro, 1987)

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