Por isto mesmo, a maioria dos portugueses, nem valendo-se da sua reconhecida capacidade de percepção extra-sensorial, se deram ao esforço de tentar ouvi-lo.
É o que devemos concluir do inquérito-relâmpago da Eurosondagem.
Mas eu vi e ouvi. O debate-estreia. Má estreia, diga-se.
Importante, apenas, por aquilo que, nele, não aconteceu.
Pelo que não foi.
Mas debate importante .
Não para os dois candidatos que lá estiveram.
Mas para aquele que lá não esteve.
Exactamente.
Para Mário Soares.
Para ele,
que, contra todas as expectativas, dele próprio, provavelmente, e do PS, seguramente,
está transformado, no candidato-presente mais ausente ou do candidato-ausente mais presente (a combinação é indiferente) desta campanha presidencial.
Mário Soares está sempre à espera que ela arranque em moldes que lhe sejam favoráveis.
Para o que lhe basta começar a haver campanha.
O que voltou a frustrar-se, ontem.
Mais uma vez, não aconteceu campanha.
Em primeiro lugar, porque não houve verdadeiro debate.
Não houve confronto de posições.
Não houve troca directa de argumentos.
Nenhum esboço de polémica ou de ideias que delimitasse fronteiras claras e inultrapassáveis entre os dois candidatos.
Eles, não só fisicamente, mas também intelectualmente, nunca chegaram a estar frente a frente.
Tiveram apenas dois discursos paralelos.
Mas, para isso, bem podiam ter mandado à SIC dois mandatários.
O resultado seria o mesmo.
Eleitoralmente falando, claro.
E é disto que se fala, quando se trata de campanha eleitoral.
E não de um discurso académico, sobre as diferentes perspectivas que Cavaco e Alegre têm para a Presidência da República e para o País.
Diferenças que resultam, e nunca podiam deixar de ter resultado, não daquilo que eles deveriam ter mostrado, ontem, como candidatos, mas daquilo que os diferencia, inevitavelmente, como pessoas e cidadãos.
Mas tudo isto, os portugueses já conheciam.
Não precisavam ouvi-los, ontem.
E foi o que fizeram.
Não ouviram.
Ou simularam, para a Eurosondagem, que não ouviram .
O que vem a dar no mesmo.
Em segundo lugar, porque o debate se fez, sem qualquer alusão a nenhum dos outros candidatos que, nele, não participaram.
O que é perfeitamente compreensível, e até indiferente, para todos os outros candidatos.
Menos para Mário Soares.
O impulso que o trouxe a esta nova luta da sua vida, mais uma vez, não se confirmou.
Ser uma excepção.
O que, objectivamente, é.
Mas tarda, cada vez mais, a ser reconhecido.
A não ser nos aspectos negativos.
Na fronteira dos estereótipos do inconsciente colectivo português.
Em terceiro lugar, porque só uma vitória arrasadora de um dos dois contendores de ontem podia servir a Mário Soares.
Não foi nada disto que aconteceu.
Não aconteceu, nem relativo KO, nem absoluto OK, para nenhum dos lados.
Nenhum deles foi sequer “às cordas” daquele ringue, muito, mas muito, virtual.
Em quarto lugar, porque aquele formato de debate está talhado para Cavaco.
Mas, se ele não lhe conseguir dar a volta, como acho que conseguiu (ou quase ) com a entrevista a Judite de Sousa, na RTP, não serve a Mário Soares.
Em quinto lugar…Em quinto lugar, ponto final.
Para dois candidatos, que se revelaram tão pouco argumentativos,
mais argumentos revelam-se manifestamente…descabidos.
E, bloguisticamente falando, absolutamente indigest(ivos).
terça-feira, dezembro 06, 2005
O Debate Previsto,mas não Visto (nem Ouvido)
Publicada por Dsousa à(s) 5:51 da tarde
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