domingo, maio 04, 2008

Ainda Guernica

O que segue é a descrição objectiva e factual do bombardeamento de Guernica, tal com foi publicada no jornal "Times " de 27 de Abril de 1937.

«Guernica, a mais antiga cidade das províncias bascas e o centro da sua tradição cultural foi ontem completamente destruída por um ataque aéreo dos rebeldes. O bombardeamento da cidade desprote­gida, situada muito atrás da linha de combate, durou exactamente três quartos de hora. Durante este lapso de tempo uma forte esquadrilha de aparelhos de origem alemã- aviões de bombardeamento Junkers e Heinkel, assim como caças Heinkel-Iançou ininterruptamente bom­bas, algumas com 500 kilogramas, sobre a cidade. Simultâneamente aviões de caça em vôo picado rasante atiravam com metralhadoras sobre a população que tinha fugido para os campos. Num curto espaço de tempo toda a cidade estava em chamas. »

Este é o modo como Picasso traduz num poema a visão daquilo que havia de reproduzir na tela.
Um grito, um imenso, intolerável e incontrolável grito de horror, perante a barbárie hitleriana e franquista.
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- «Guernica» de Picasso é a forma de pintura histórica que a época da autonomia artística ainda permitia: O teste­munho ocular é aqui substituido pela consternação subjectiva do artista. O quadro descreve menos um facto histórico do que o efeito deste acontecimento sobre o espírito de Picasso. «Gritos das crianças, gritos das mulheres, gritos dos pássaros, gritos das flores, gritos das árvores e das pedras, gritos dos tijolos, dos móveis, das camas, das cadeiras, dos cortinados, das panelas, dos gatos e do papel, gritos dos cheiros, que se propagam uns após outros, gritos do fumo, que pica nos ombros, gritos, que cozem na grande caldeira, e da chuva de pássaros que inundam o mar.» Com estas palavras termina um poema de Picasso para o ciclo de águas-fortes «Sonho e Mentira de Franco», no qual no princípio de 1937 ele se refere pela primeira vez à guerra.

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